Escrito por Sulivan França - 17 de Junho de 2019

Em 1987, a Alcoa era uma das maiores fundições de alumínio do planeta, mas havia registrado alguns resultados recentes ruins. Por isso, naquele ano, um novo diretor executivo chegou à companhia. Paul O'Neill era ex-funcionário do governo e a escolha causou estranheza nos investidores, pois muitos nunca tinham ouvido falar dele. 

Em sua apresentação, em vez de abordar estratégias e lucro, O'Neill falou sobre segurança no trabalho, deixando a plateia confusa. Ele explicou que queria tornar a Alcoa a empresa mais segura dos EUA e que, para isso, sua meta seria zerar os índices de acidente. Houve quem vendesse suas ações da empresa, por achar que o executivo ia afundá-la. Mas meses depois do discurso, os lucros da Alcoa já batiam alta recorde. Em 2000, quando O'Neill se aposentou, o faturamento anual da empresa havia crescido em cinco vezes. 

E isso ocorreu enquanto a Alcoa se tornava uma das empresas mais seguras do mundo. Como? Bom, O'Neill sabia que precisava transformar a companhia. Mas também compreendia que não poderia mandar as pessoas mudarem, pois não é assim que o cérebro funciona. Por isso, ele começou enfocando uma única coisa e aquilo se alastrou. 

Alguns hábitos, chamados angulares, são mais importantes para reformular empresas ou indivíduos. Eles dão início a um processo que, ao longo do tempo, altera tudo. Em vez de se apegar a cada detalhe, é preciso identificar prioridades e transformá-las em alavancas. Para quem busca mudar hábitos, mas não sabe por onde iniciar o processo, os angulares são a melhor aposta. Quando começam a mudar, desalojam e reformulam outros padrões. 


Faça um teste: por esta definição tente pensar em hábitos que sejam angulares em seu cotidiano. O que você poderia mudar hoje que desencadearia outras modificações?

Se indivíduos têm hábitos, grupos possuem rotinas. Ao priorizar a segurança, O'Neill buscou algo que todos ali considerassem importante, de sindicatos a executivos. O que a maioria não notou, porém, é que para zerar os acidentes, o diretor iniciou um realinhamento radical. Para proteger os funcionários, era preciso entender porque os acidentes ocorriam. 

Mas isso significava compreender como o processo de fabricação vinha dando errado. Já para chegar a isso, a empresa teria que educar a todos sobre controle de qualidade e processos eficientes, para que tudo fosse feito do jeito certo. Um trabalho mais correto também seria mais seguro. Ou seja, para proteger funcionários, a Alcoa teria que virar a melhor e mais eficiente fabricante de alumínio do mundo.

O'Neill instituiu que toda vez que alguém se ferisse na empresa, ou seja, um estímulo, o presidente daquela unidade deveria informá-lo em até 24 horas e apresentar um plano para garantir que um acidente como aquele nunca mais se repetisse, o que viria a ser a rotina. Como recompensa, só seria promovido quem adotasse o novo sistema. Assim, quase toda a hierarquia teve de mudar. Logo, outros aspectos também se transformaram para atender a segurança. Com novas rotinas, custos baixaram, a qualidade subiu e a produtividade disparou. E isso se refletiu nos lucros. 

Faça um teste: que hábitos você já mudou em sua vida que causaram algum tipo de alteração maior do que a que tinha sido avaliada inicialmente? Pense em todo o processo

Algo similar ocorre com quem inicia uma rotina de exercícios. Logo, passam a mudar padrões não relacionados, como fumar menos, ter mais paciência e menos estresse. Para muitos, o exercício vira um hábito angular e muda outros pontos. Porém, identificar hábitos angulares não é simples. É preciso saber onde procurar.

Fenômeno da natação, Michael Phelps ganhou 28 medalhas em Jogos Olímpicos, 23 delas de ouro. O sucesso veio do corpo ideal para a piscina, mas também de hábitos criados pelo treinador Bob Bowman, o primeiro a ver potencial nele. Aos 7 anos, quando começou a treinar, o menino sofria com o divórcio dos pais. Por isso, Bowman comprou um livro de relaxamento e orientou a mãe de Phelps a ler para o garoto toda noite, antes de ele dormir. 

Phelps tinha musculatura perfeita e era obcecado. Mas todo atleta de elite tem isso. Assim, Bowman buscou algo que faria a diferença: hábitos para ele se tornar o nadador mentalmente mais forte na piscina. O treinador não precisava controlá-lo, bastou criar a mentalidade correta. Ele estabeleceu comportamentos que Phelps podia usar para ficar calmo e focado antes de cada prova. 

A partir da adolescência, antes de dormir e ao acordar, Phelps passou a visualizar mentalmente uma prova perfeita, como num "vídeo". Nele, se imaginava realizando a competição em detalhes e sem erros. Ao repetir isso muitas vezes, decorou cada movimento. Nos treinos, Bowman dizia para Phelps pensar no "vídeo", visto mentalmente. Tudo saia de modo automático e ele foi ficando mais rápido. Antes das provas, Bowman sussurrava "deixe o vídeo pronto". Phelps se acalmava e aniquilava qualquer adversário. 

O treinador focou em algumas rotinas centrais, mas todos os outros hábitos, como dieta, sono, treinamento e alongamento, se ajustaram. A eficácia de um hábito angular é o conceito de "pequena vitória". Uma vez que uma delas é conquistada, forças que favorecem outra pequena vitória se iniciam. Rumo a grandes mudanças possíveis.

Bowman e Phelps não tinham ideia do que estavam fazendo desde o início. Foi pura tentativa e erro. Por fim, focaram nos sucessos e os transformaram em gatilhos, criando a rotina. Ao realizar uma prova, aquilo só era um passo dentro de um padrão mais amplo. Vencer era uma extensão natural. 

Faça um teste: imagine que pequena vitória você poderia conquistar com um hábito. Reflita sobre mudar coisas pequenas para alcançar grandes objetivos a partir desse começo.

Ser atleta, como Phelps, requer força de vontade. Mas veja a história de Travis Leach. Filho de um casal viciado em drogas, Travis largou os estudos aos 16 anos e não conseguia parar em emprego, pois surtava quando um chefe ou um cliente gritava com ele, por exemplo. Faltava, chegava atrasado. Mas isso até os 19 anos quando virou barista na rede Starbucks. Após seis anos, Travis passou a gerente de duas unidades, supervisiona 40 funcionários e é responsável por um faturamento anual de 2 milhões de dólares. 

Na Starbucks, todo funcionário passa por um programa de treinamento que começa no primeiro dia e segue ao longo da carreira. Inclui muitas horas em salas de aula da empresa ou em casa, com livros didáticos da companhia. A essência disso é focar no hábito angular mais importante para o sucesso individual: a força de vontade. Pesquisas com estudantes apontam que ela tem mais impacto para o desempenho que a inteligência. Alunos com autodisciplina têm mais chances de tirar notas melhores do que os mais impulsivos, pois faltam menos, vêem menos TV e dedicam mais horas às lições. 

A Starbucks investiu milhões para desenvolver o treinamento de autodisciplina para seus empregados. Em parte, isso explica como um empresa local virou um império com 17 mil lojas e faturamento anual superior aos 10 bilhões de dólares. 

Mas o que é força de vontade? Um teste ficou famoso nos anos 1960. Cientistas colocaram um marshmallow diante de crianças de 4 anos e quem resistisse 15 minutos a comê-lo ganhava outro. Anos depois, verificaram a performance de todos: as crianças que conseguiram esperar e ganhar o segundo marshmallow tiveram notas maiores no ensino médio na comparação com os que não esperaram. 

Outros estudos indicaram que temos uma reserva limitada de força de vontade e, como um músculo, ela precisa ser exercitada. Quando a desenvolvemos por meio de treino, nossas reservas aumentam e conseguimos fazer mais. Por isso, aulas de música ou esporte são importantes para uma criança de 5 anos, por exemplo. Mais do que desenvolver um talento, ajuda a criar a força de autocontrole e autodisciplina. Importantes para a vida toda. 

Faça um teste: qual é o seu nível de força de vontade, numa escala de 0 a 10? O que você poderia fazer para se tornar alguém com mais força de vontade e chegar ao sucesso?


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