Resiliência é um conceito advindo da Física, utilizado essencialmente na Engenharia. Dessa forma, consiste em: propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora da deformação elástica; resiliente, que tem resiliência; elástico.

No campo da Psicologia, refere-se aos indivíduos com adaptabilidade e resignação aos “acontecimentos potencialmente difíceis na vida, especialmente situações que geram alto estresse, esgotamento e exaustão.”

Pereira (2001) enfatiza o aspecto individual da resiliência, afirmando que os sistemas de formação educacional deverão valorizar o desenvolvimento do sujeito, no sentido de preparar os seus participantes para um maior controle do estresse, além de promoverem o indivíduo resiliente, ao longo de todo o desenvolvimento coextensivo à duração de vida. 

Sabe-se que embora o indivíduo possa ter uma série de características positivas no que se refere ao enfrentamento para o mundo dos negócios, muitas delas podem desaparecer em situações de estresse e pressão extrema. De acordo com Ruter (1987), a resiliência é um processo interativo entre a pessoa e seu meio e é considerada uma resposta da pessoa ao risco, preservando a identidade em circunstâncias difíceis.

O termo resiliência no contexto do trabalho nas organizações refere-se à existência – ou à construção – de recursos adaptativos, de forma a preservar a relação saudável entre o ser humano e seu trabalho em um ambiente em transformação, permeado por inúmeras formas de rupturas. 

Coutu (2002) aponta três características da pessoa ou organização resiliente: 1) a firme aceitação da realidade; 2) a crença profunda, em geral apoiada por valores fortemente sustentados, de que a vida é significativa; e, 3) uma “misteriosa” habilidade para improvisar. (BARLACH, L; LIMONGI-FRANÇA & MALVEZZI, 2008)

Segundo Flach (1991), um indivíduo resiliente dispõe de uma série de características, dentre as quais se destacam:

- A autoconfiança: acreditam em si e naquilo de que são capazes de fazer; 

- A aceitabilidade das mudanças: encaram as situações de estresse como desafios;

- A baixa ansiedade, alta extroversão e abertura à experiência; 

- O autoconceito e autoestima positiva

- Ser emocionalmente inteligente; 

- Mantém clareza de propósito, calma e foco de situações adversas;

- Tem independência de pensamento e ação;

- Possui alto grau de disciplina pessoal e sentido de responsabilidade. 

Essas características são fundamentais no desenvolvimento do empreendedorismo, especialmente no que tange à gestão dos riscos e incertezas, além da persistência das ideias e planos. Conner (1995) afirma que as pessoas com maior capacidade de resiliência estão melhores preparadas para as mudanças e suas consequências, demonstrando-se mais eficazes em enfrentá-las; absorvem mais prontamente as transformações e, ao mesmo tempo, apresentam poucas disfunções causadas por essas alterações, antecipando-se com mais facilidade às mudanças. 

Ralha-Simões (2001) problematiza o conceito de resiliência destacando que não se trata de uma espécie de escudo protetor que alguns indivíduos teriam, mas a possibilidade de flexibilidade interna que lhes tornaria possível interagir com êxito, modificando-se de uma forma “adaptativa” em face dos confrontos externos, manejando assim as circunstâncias adversas do ambiente.

Resiliência é a capacidade profunda para a superação de crises em situações adversas, estando presente em pessoas, comunidades e instituições.

Considera-se, então, o conceito de resiliência psicológica aquele que avalia os seguintes pontos de vista do comportamento resiliente: o risco individual, o estressor e o seu impacto, as capacidades de recuperação, as estratégias utilizadas para superar o estressor e o resultado final dessa vivência. Assim, a resiliência é considerada aqui como um processo composto de fatores, comportamentos e resultados resilientes. E os estilos de enfrentamento ou mecanismos de defesa do indivíduo dão movimento a esse processo que se modificam ao longo da vida e determinam seu comportamento.

Embora haja certa descrença por parte de alguns autores de que haja efetiva possibilidade de mensuração de resiliência e relacioná-la com o empreendedorismo, parte significativa deles identifica a importância desta característica da determinação do sucesso de um empreendimento, especialmente para segmentos de negócios ainda não consolidados ou mesmo para pequenos empreendedores que iniciam um negócio sem conhecimento e/ou capital.

Os autores citados trabalham com a ideia de que a resiliência, muitas vezes, pode ser fator de insucesso, pois pode esconder um enfrentamento mais realista dos desafios impostos pelo mercado ao empreendedor. Entendem antes que a resiliência se situa no campo dos mecanismos de defesa do ego, apresentando aspectos da personalidade do indivíduo que os auxiliam a lidar com incertezas, conflitos e estresse.

O estado do sujeito resiliente é dialético; ao mesmo tempo em que se sente enfraquecido, fortifica-se. Neste movimento acontece como que um duplo estímulo, uma resposta à situação adversa, encontrando forças em sentimentos como a superação. O indivíduo resiliente suporta as situações adversas e se refaz. Mesmo quando momentaneamente sai enfraquecido, relativiza os ganhos do enfrentamento na resiliência como transformação e menos como adaptação, resiste, transforma a adversidade em resistência, para manter, de alguma forma, sua dignidade.



Informamos que esse texto é de inteira responsabilidade do autor identificado abaixo.