Coaching é um processo que utiliza técnicas e várias ferramentas desafiadoras, com o propósito de apoiar pessoas a alcançarem suas metas dentro de um determinado período de tempo, desenvolvendo e potencializando habilidades e competências, através de ações planejadas e específicas, tanto no âmbito pessoal bem como no profissional. O processo de coaching requer consciência, planejamento, reflexão e ajustes constantes.

Se analisarmos a palavra coaching e repassarmos isso para o universo infantil, já conseguiremos parar e repensar em algumas palavras-chave do processo de coaching, que não cabem a este universo como: alcançar objetivos, metas, ações planejadas, reflexão, potencializar habilidades e competências. Como educadora não subestimo a capacidade de uma criança, porém, devemos olhar primeiro para outras etapas do desenvolvimento infantil que são de extrema importância na formação integral e sistêmica da criança.

E por que precisamos repensar nestas palavras-chave?

É na faixa etária entre 0 a 6 anos que a criança passa por um processo muito intenso de formação da personalidade. É durante a primeira infância que o cérebro humano desenvolve boa parte das ligações neuronais. São nestes anos que a criança irá somar à genética, ou seja, ao seu DNA, os modelos recebidos pela família e pelo meio social ao qual está inserida.

Em uma instituição de ensino, por exemplo, se observa uma amostragem grande de diferentes perfis comportamentais em franco desenvolvimento. A criança nesta idade está em busca de conhecimentos, através de aprendizagens significativas, que serão incorporadas ao seu perfil comportamental e a sua personalidade, e precisam ser respeitadas; e o maior respeito que se pode oferecer é saber permitir o tempo adequado de maturidade de cada criança e dar a ela, liberdade para que ela possa viver intensamente a fase mais livre que um ser humano pode ter, a infância; utilizando o brincar como o meio mais completo para se desenvolver e aprender.

É brincando e interagindo com o adulto e com outras crianças, que a criança aprende e interioriza valores, formando assim a sua personalidade, através de um processo natural chamado sócio interacionista, defendido por grandes filósofos como Piaget, Vygotsky, Wallon entre outros.

A criança nesta fase do desenvolvimento tem o direito de experimentar, vivenciar, construir, pesquisar, imaginar, criar, aprender a estabelecer raciocínio lógico e crítico, respeitar regras, aprender sobre as suas emoções e como lidar com as mesmas, a ser responsável, se desenvolver entre os erros e acertos, através da mediação de um adulto. Pais, educadores e outros profissionais multidisciplinares devem assumir um papel de mediador neste processo de aprendizagem e não um papel intervencionista. 

Uma proposta de qualidade de desenvolvimento humano nas instituições de ensino infantil, voltando às escolas agora, deve sim considerar o estimular e o desenvolver de habilidades e competências que ainda precisam ser desenvolvidas ou aprimoradas, através de um trabalho bem elaborado, baseado nas inteligências múltiplas e na Inteligência Emocional

A escola tem sim a obrigação de aproveitar as chamadas Janelas de Oportunidades, que apresentam total abertura para diversas áreas do conhecimento durante esta faixa etária, utilizando ferramentas essenciais como os jogos, brincadeiras livres e dirigidas, vivências em grupo, favorecendo e desenvolvendo na criança o autoconhecimento, a autoconfiança, a autoestima, a segurança, a resolução inteligente de conflitos e demais comportamentos, que precisam sim ser vividos e aprendidos.

 A psicopedagogia e a psicologia têm um papel muito especial neste processo, onde através de aulas de sentimentos e de autoconhecimento, possam ir direcionando a criança a pensar e reconhecer seus sentimentos e seus atos, distinguindo o certo do errado, percebendo que suas ações geram consequências que devem ser resolvidas e assim, conseguir adquirir maior capacidade para aprender, viver e a conviver em um ambiente social e regrado.

Deve-se tomar muito cuidado para não transformar a necessidade dos adultos, em uma necessidade da criança, pois vivemos na geração das incertezas, e os pais ao buscar o que acreditam ser o melhor aos filhos, acabam atropelando uma fase de desenvolvimento muito importante da criança, deixando de lado o processo natural da formação da personalidade e muitas vezes causando um stress desnecessário. 

O processo de coaching se faz importante sim, quando o mesmo é destinado aos adultos que vivem e convivem com a criança para que possam entender como apoiar e ajudar as crianças ou grupos, a desenvolverem da melhor e mais eficiente maneira as suas habilidades e competências, agregadas a sua personalidade, mesmo porque, não existe um modelo de competência certo ou errado, melhor ou pior, e sim modelos que se complementam. 

Portanto, se a criança necessita aprender a viver para aprender a ser, não cabe dizer que é possível à aplicação do processo de coaching para crianças, e sim para os adultos que com ela interagem, para que possam através da escuta atenta e de perguntas poderosas, entender com objetividade que pontos devem ser desenvolvidos e apoiados, como deve ser o processo e qual o resultado esperado, como por exemplo, uma criança tímida, precisa ser estimulada e encorajada, através de estímulos dos adultos, a ser mais aberta e comunicativa. 

Baseada na minha experiência de 15 anos na área educacional, não mais consigo imaginar uma escola onde os professores não apresentem uma postura coach com seus alunos no dia a dia e durante as atividades propostas.



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