O coachee é aquele que se autodefine como alguém angustiado, que poderia ter seguido outro caminho, ter empreendido ou apenas ter feito algo diferente. Aquele que tem uma motivação latente, mas que provavelmente não tem orientação. Aquele que deseja algo, mas não se sente confiante para o passo que precisa ser dado. Todos somos coachees, pois temos essa sensação. 

É meio que uma obviedade esse sentimento, em que cada segundo que passa somos nutridos por inúmeros desejos, necessidades e sonhos, mas que alguma força normalmente nos impede. A metodologia coaching passa a ser o vetor contra esse tipo de sentimento.
  
Apesar da discrepância das definições de coaching na nossa sociedade, ela é fundamental para tangibilizar os propósitos e ser o processo que dá sustentação a esse desejo do coachee. Historicamente, temos como buscar na literatura essas definições do porquê desses anseios, e fazer uma correlação positiva para a motivação que alguns conseguem alcançar o sucesso, e outros não. 

Aqui, com a descrição de Platão (um dos mais belos textos de sobre a doutrinação da motivação humana e pelo amor, chamado O Banquete) é possível explicar todo o contexto. O empoderamento do voachee é a lógica da ação alinhavada à maturidade e responsabilidade da transcrição das metas pelo coach. E aqui é que entra Platão, por meio do “Amor Platônico”. Ou seja, os dois tem a responsabilidade de ir além do sensível, elevar o desejo da alma do coachee em busca da realização e da gestão “imparcial” do Coach. Difícil? Vamos além! Contextualizando o pensamento e Platão.

Platão, de família nobre ateniense, era alguém de extrema atividade física e intelectual. Músico, ginasta, pintor, escritor, participando inclusive dos Jogos Olímpicos da época como lutador. Desde cedo tornou-se discípulo de Sócrates e transformou-se num conhecedor do Mundo e Virtudes, principalmente após a morte de seu mestre. Viajou, formulou teorias, disse e contradisse Sócrates, aprendeu com os discípulos de Pitágoras, lia os Astros, e quando retornou para Atenas, fundou a Escola Filosófica “Academia”. 

Toda a genialidade se propagou pelo tempo nas obras como “Fedro”, “República” e “O Banquete”, e é neste último que explorarei.

Permita-me fazer uma analogia e ultrapassar a linha tênue da lógica de compreensão do texto, para que eu possa demonstrar a força do amor na relação do coachee (seus objetivos e metas) e o coach (o profissional que apoiará o coachee na realização dos objetivos e metas). A narrativa do diálogo em “O Banquete” se dá pelos discursos a respeito da Natureza e Amor.

Platão buscou decifrar o Amor pela beleza, e não apenas a intenção do amor entre duas pessoas, comumente dito na atualidade. O “Amor ao Belo” é multifacetado, a conciliação de muitos amores como justiça, ética, país, enfim, aprofundar e conhecer as essências das coisas através do intelecto. 

Esse amor, na visão de Platão, é a beleza do puro, da integridade e virtuosidade. Diz Platão: “Quem ama extremamente, deixa de viver em si e vive no que ama”. Temos então um amor por tudo aquilo que desejamos, que queremos. Em síntese, o Amor Platônico é a relação de afeto com sentimentos imaculados, alimentado pelo desejo profundo de ser ou ter algo. 

Não há relação de afeto mais puro do que nós com os nossos sonhos e desejos. Apesar de toda a beleza, é fundamental regras para não cometermos os erros e nem interferir negativamente o andar da sociedade.

Como primeira e única regra “platônica” para o coach, jamais deveremos julgar os desejos e amores dos demais. Há o erro constante de pré-conceitos dos objetivos, da avaliação inadequada, que certamente provocará frustrações e orientações limitadoras. 

Isso não significa que devemos nos submeter a qualquer custo aos demais, pois isso pode ferir nossos valores éticos e morais, os quais nos faz sentido recuar ou negar. Nos cabe a obrigação de darmos o suporte, o apoio, de fomentar o desenvolvimento das competências, da forma afetuosa, construtiva. Essa é nossa imparcialidade honesta perante o coachee.

Como primeira regra do coachee, o belo em si está na consciência da relação da beleza material e a beleza absoluta. O coachee é guiado não somente pela matéria, é corpo e alma. É a realização de uma visão de felicidade, do bem e da própria verdade. Ocorrendo por meio de objetivos de ter algo, ou de ser algo. Essa é a nossa beleza existencial, máximo de conhecimentos para que o coachee possa ultrapassar o mundo limitado e finito. Ir além!

A segunda regra está no aprimoramento das competências necessárias para a realização dos objetivos. Não podemos andar de bicicleta se não temos o conhecimento para tal. E tão menos podemos conquistar algo se não nos conhecermos o suficiente, se não sabemos a potência das nossas competências (habilidades, conhecimentos, valores e atitudes).  

A terceira regra do Amor Platônico e o coachee está no objeto conhecido e amado por ele. Traduzindo aqui, o objetivo. O amor explícito aqui é filosófico, mas o objeto precisa ser construído e desconstruído de forma racional. Não se pode correr o risco de projetar algo muito além ou aquém do que realmente representa. 

Como Platão nos mostrou, esse desejo é originado pela carência daquilo que nos falta, podendo ser dinheiro, fama, uma relação amorosa, um carro ou até mesmo a ausência. Mas, tem que ter a clara e realística noção do desejo aqui a ser alcançado, prestando atenção do impacto na vida, no custo que terá, do uso dos recursos que possui e nas consequências dos atos. O amor está acima de tudo, e isso inclui muitos fatores morais e éticos.

Por fim, podemos resumir que o coachee compreenderá “platonicamente” este amor quando as realizações estiverem baseadas em uma Competência Virtuosa, em que as variáveis são saber fazer (conhecimento), querer fazer (desejo) e poder fazer (atitude). 



Informamos que esse texto é de inteira responsabilidade do autor identificado abaixo.