Nos artigos anteriores falamos sobre a possibilidade de observar os pensamentos e comportamentos, buscando identificar maneiras mais eficazes de se relacionar com as pessoas para atingir seus objetivos de vida, especialmente a meta trabalhada no Coaching. Discutimos os comportamentos de líder, frisando a necessidade de buscar ganhos mútuos nas relações ao invés de apenas o ganho individual. Também foi explicado como o inconsciente individual e coletivo atuam sobre as suas decisões, salientando a importância de aumentar o grau de consciência sobre as suas ações e comportamentos.

Fica evidenciado que rever atitudes é uma consequência natural do Coaching, através do qual você obtém mais recursos para fazer essa avaliação. Por essa razão, esse capítulo se dedica exclusivamente a mostrar que pertinência e discernimento são as duas palavras-chave para que você possa escolher quais comportamentos mais o aproximam de seus objetivos. Por isso, leia atentamente a frase abaixo:

“Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. (frase do Apóstolo Paulo - 1 Coríntios 6:12, Bíblia)

Como você já deve ter notado, tudo que você realiza é resultado de uma escolha sua. É você quem decide o que falar e o que fazer a todo instante. Da mesma maneira, você define quando calar, confrontar ou consentir, mas muitas vezes erramos nas atitudes, sem notar que apesar de lícitas, elas não foram convenientes. Como não percebemos isso, continuamos repetindo os erros sucessivamente.

A escolha de atitudes inconvenientes é comum porque está frequentemente relacionada com a máscara que você escolheu para se apresentar ao mundo, ou seja, a sua Persona. Elas se tornam um hábito, algo que é esperado de você em qualquer contexto, não apenas por você, mas por todos que já o conhecem. Contudo, diferentes ocasiões podem exigir diferentes atitudes.

Por falta de consciência, o julgamento sobre a pertinência das atitudes em cada contexto não é feito adequadamente, acarretando em escolhas pouco assertivas. Para mostrar como isso pode ocorrer, veja o exemplo a seguir:

Uma pessoa muito boa, que sempre é sincero com todos, quando perguntado se está tudo bem, por um conhecido que encontrou na rua, responde: “mais ou menos, estou saindo de uma gripe fortíssima e, para completar, estou com o carro a duas semanas na oficina, porque bateram em mim na semana anterior. Mas tirando isso...” .

Você pode estar pensando que não há nada de errado com essa resposta, mas quem fez a pergunta queria apenas ouvir: “tudo ótimo, correndo bastante, como sempre, e já contando os dias para a viagem que farei no próximo mês”.

Ao ter sido sincera, essa pessoa deu ênfase em tudo que ia mal em sua vida e teve apenas o ganho secundário da pena de seu conhecido, que deve ter pensado: “Coitado, que coisa desagradável que aconteceu, logo com ele, que é tão sincero e bom...”

Sem perceber, agiu como vítima, mas acreditava que estava apenas sendo honesto em sua resposta, mesmo sabendo que aquele não era o local e momento para falar de seus problemas. Se tivesse optado por responder que tudo ia bem, ambos teriam guardado uma memória bem melhor desse encontro.

Poderiam ter marcado um almoço para obter dicas de viagem e, ao invés de ter relembrado e compartilhado suas angústias, teria um momento de prazer no seu dia. O exemplo ilustra apenas uma, dentre inúmeras armadilhas de nossos hábitos.

Fica evidente então que, se sempre agimos de acordo com o que achamos certo, sem contudo ter avaliado a pertinência de nossas atitudes e comportamentos em cada situação, perdemos excelentes oportunidades de tomar decisões mais eficazes.

Veja a seguir outros exemplos de padrões de comportamento que podem ser facilmente notados em pessoas de nosso convívio. A palavra “sempre” é utilizada propositadamente nos exemplos, indicando um hábito de comportamento que foi incorporado até o ponto de definir a personalidade, tornando-se algo pelo qual a pessoa é reconhecida:

Quem sempre quer ser o centro das atenções: essa pessoa quer parecer confiante e ser popular, mas acaba passando a imagem de egocêntrica e vaidosa, portanto incapaz de respeitar o brilho dos outros. Na empresa, pode chegar ao ponto de impedir que seus funcionários recebam o crédito por suas realizações. Também pode passar a imagem de ser alguém carente ou mesmo infantil.

Quem sempre abdica da sua felicidade pelo outro: essa pessoa se considera altruísta e busca gratidão, mas atrai o sentimento de pena ao assumir uma posição de vítima. Ela crê que suas decisões em prol dos outros é um grande gesto de sacrifício imposto pela vida e por isso não teve permissão para ser feliz. É vista como “coitadinha” ou “azarada” pelas outras pessoas, que preferem manter-se longe de sua vida trágica.

Quem sempre precisa se posicionar: essa pessoa alega ser autêntica e se orgulha em dizer que “joga a verdade na cara”, mas passa a imagem de arrogante. Impertinente, não pede permissão para dar sua opinião a respeito de assuntos que não lhe dizem respeito. Ao confundir sua grosseria com autenticidade, acaba conquistando muitos inimigos.

Quem sempre quer dar o exemplo: essa pessoa quer ser confiante e busca se mostrar como mais esclarecido ou bem nascido que os demais. Pode até agir de boa fé, mas sua postura de superioridade contém um julgamento intrínseco de inferioridade a todos os demais, razão pela qual é vista como esnobe, desdenhoso e prepotente.

Quem sempre reclama da vida: essa pessoa quer ser vista como realista, mas é reconhecida como pessimista e ranzinza. Deseja validar sua visão, então expressa suas insatisfações com o governo, a economia, o casamento etc. Com sua incredulidade, ela incomoda e afasta as pessoas otimistas que poderiam tornar o seu dia mais leve e produtivo.

Quem sempre esbraveja quando contrariada: essa pessoa quer mostrar autoridade e poder ao vencer discussões a força, no grito e sem argumentos lógicos. Faz isso para esconder sua falta de conhecimento técnico e sua falta de confiança. Quando pode, usa a sua posição de chefe para ser obedecido sem dar justificativas. Transmite total descontrole sobre suas emoções, tornando-se um elemento destrutivo em todas as relações, atraindo assim a antipatia de quase todos com quem lida.

Quem sempre fala mal dos outros: essa pessoa deseja transmitir a sua superioridade, julgando e sentenciando verbalmente o que os outros fazem. Insegura, essa pessoa vive preocupada com o que os outros pensam dela, porque intimamente reconhece que não pode ser perfeita. Afasta os demais, que a consideram venenosa e traiçoeira, e sabem que eventualmente também serão julgadas e sentenciadas por ela.

Quem sempre faz fofoca: essa pessoa deseja ser simpática e interessante ao ter sempre assunto para conversar. Se esquece, contudo, que diante da sua fofoca os outros a vêem como alguém que faz intrigas, maledicente, e por isso preferem manter relações superficiais com ela.

Quem sempre quer convencer o outro da sua opinião: essa pessoa quer ser influente e certa, mas demonstra ser alguém que se acha perfeita e não aceita que pode errar ou existir diferentes pontos de vista. Passa a imagem de ser teimosa, insistente e egocêntrica.

Quem sempre quer seduzir: essa pessoa quer ser considerada atraente e charmosa para se validar ou para conseguir algo que deseja, mas é percebida como alguém que sempre possui segundas intenções. Agindo com o intuito de obter favores em troca, sua atitude não transmite sinceridade e honestidade, razão pela qual pode ser vista como alguém não confiável nas relações amorosas.

Quem é “de lua”: essa pessoa, não sabendo lidar com contrariedades cotidianas, sequer percebe a sua inconstância de humores. Por isso desconta seus conflitos e insatisfações nos outros da mesma maneira que compartilha suas alegrias. Sem saber o que esperar dessa pessoa, os outros vivem em estado de alerta e medo de suas atitudes e “múltiplas personalidades”.

Quem tem “síndrome de Gabriela”: essa pessoa precisa reconhecer que mudar é possível. Para quem não entendeu o que seria isso, vai a dica da letra da música:


“Eu nasci assim, eu cresci assim,

E sou mesmo assim, vou ser sempre assim:

Gabriela, sempre Gabriela!

Quem me batizou, quem me nomeou,

Pouco me importou, é assim que eu sou

Gabriela, sempre Gabriela!” (trecho da música Modinha para Gabriela, Gal Costa)


Ou seja, aqueles que acreditam que sempre foram e sempre serão de um determinado jeito vivem a síndrome de Gabriela, podendo assim justificar qualquer traço de sua personalidade, como o ciúmes, a preguiça, o mau humor etc. Esse e todos os demais comportamentos descritos nos exemplos podem ser considerados positivos, desde que usados com discernimento.

Discernir é a capacidade de refletir antes de agir para tomar a decisão mais correta. Por isso uma pessoa com discernimento tem astúcia para ponderar sobre as opções e fazer as escolhas mais assertivas. Isso é mais do que fazer a distinção entre o certo e o errado: é refletir a respeito da pertinência do comportamento dentro de um contexto, que deve ser compreendido com sensatez e clareza.

Por exemplo, falar a verdade, embora pareça certo, pode não ser uma decisão assertiva quando a outra pessoa não está preparada para ouvi-la. A sua opinião sobre um assunto, por melhor que seja, pode não ser do interesse do outro. O seu jeito sedutor pode fazer a sua funcionária se sentir assediada sexualmente. Sua sinceridade em relação ao peso de sua esposa pode magoá-la. Seu pedido de desculpas antes de dar a sua opinião pode ser visto como gesto de submissão ou fraqueza.

Em contrapartida, sua austeridade pode ser necessária ao exigir de um funcionário um trabalho que ele irresponsavelmente não entregou. Um categórico “NÃO” ao colega que quer explorar sua bondade pode ensiná-lo a te respeitar. Falar mal da corrupção durante uma manifestação popular pode contribuir com a melhoria do país. Convencer alguém da sua opinião pode ser fundamental quando você sabe que o outro vai se prejudicar.

Sem contexto, não haveria certo ou errado, bom ou ruim. Reflita por alguns instantes sobre o papel de um negociador. Ele precisa lidar com terroristas, que podem tirar sua própria vida e a de reféns em questão de segundos. Ou com bandidos encurralados, que querem viver após o conflito, mas barganham com a vida desse reféns.

Pense agora no que você faria no lugar do negociador. Você teria a mesma certeza que possui hoje em relação a suas atitudes? Você falaria sempre a verdade para o bandido? Daria sua opinião, esbravejaria ou reclamaria da vida para ele? Quais seriam suas atitudes? O que você faria se soubesse que seus hábitos colocariam em risco a vida dos reféns?

Caso queira descobrir mais sobre você, escolha pessoas que possam te dar feedbacks por escrito a seu respeito, pois evitam que você entre numa discussão sobre o tema. Receba e reflita sobre o feedback e se precisar, marque uma conversa futura. Todavia, esteja preparado para receber críticas negativas, afinal você já aprendeu que é comum manter o foco no problema. Mantenha você o foco na solução e, independentemente de feedbacks formais, esteja sempre aberto a criticas e elogios, em especial se vierem de pessoas com quem ainda não lida bem. Reflita, avalie a pertinência do que foi dito, compreendendo se há alguma verdade e se você teve discernimento em suas atitudes. Aproveite, pois todo feedback é um presente que você recebe, uma chance de notar algo novo sobre você!

Responda as seguintes perguntas de Coaching:

Até que ponto é pertinente dar sua opinião, compartilhar sua visão ou falar a verdade?

Quando é interessante impor a sua vontade?

Você possui discernimento?

Você pede permissão para expressar suas opiniões ou as impõe sem se preocupar com as consequências?

Você possui hábitos que podem ser considerados como vícios de comportamento?

Como você é conhecido pelos outros? Como pode descobrir?

Quais são seus comportamentos mais marcantes?

Como você pode tomar decisões e ter atitudes mais assertivas?


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