Já trabalhei o dia todo e estudei à noite. Passei noites em claro para estudar ou concluir trabalhos de faculdade, talvez na mesma proporção em que o fiz me divertindo. Já trabalhei infinitas horas extras não remuneradas, por questões de reconhecimento, responsabilidade, ascensão, necessidade ou obrigação. Já acordei desejando estar doente para ter uma razão justificável para não ir ao trabalho, e também já senti saudade do meu trabalho em alguns finais de semana. Já quis desistir de algo que fazia por ter perdido a fé e, ponderando, percebi que reconstruir essa fé com novos pilares seria uma escolha mais saudável do que me entregar a descrença.

Já tive jornada tripla de trabalho por um objetivo específico, já trabalhei gratuitamente só pela experiência ou pelo propósito. Houve em minha jornada períodos de intensa produtividade, tanto quanto passei por períodos de inércia. Já pedi demissão sem ter nenhum outro trabalho em vista, simplesmente porque “não queria mais”, e já fui demitida de um trabalho que gostava. Também pedi demissão de um trabalho que eu simplesmente amava, por um propósito maior.

Por mais malucas que algumas pareçam, sinto que todas essas foram as melhores decisões que eu poderia ter tomado, considerando quem eu era e as circunstâncias em que eu estava. E embora eu ainda não entenda alguns desses acontecimentos, acredito que todos eles, juntos, me fizeram caminhar até o exato lugar onde estou agora: uma parte empolgante do meu caminho, com tantas incertezas quantas nunca houvera.

Hoje, com 28 anos de idade, sou agraciada com a oportunidade de trabalhar fazendo algo em que acredito com todo meu ser. Um trabalho que eu amo, com o qual me identifico, que sei que sou apta a fazer, e que envolve assuntos que adoro estudar. Amo ser coach, vejo e vivencio resultados em Coaching, aprendo diariamente com isso. Fico encantada com a diversidade de modelos de mundo que encontro em cada análise de perfil comportamental que faço. O desenvolvimento humano é um universo extremamente interessante e prazeroso para mim, de fato.

Não obstante, ainda vivencio momentos de improdutividade, de dúvidas, de diálogos internos difíceis... e sobre isso, tenho aprendido algo muito importante:

Independente de qual seja o meu trabalho...

1- Não sou obrigada a produzir sempre no mesmo ritmo, volume e qualidade! Todo mundo pode ter altos e baixos na vida profissional, e a maior necessidade por trás disso é a da “autoempatia”: se perdoar logo e se dar outra chance, se permitir de novo, e quantas vezes forem necessárias, porque a instabilidade e a incerteza têm, intrínsecas, grandes aprendizados.

2- Não sou necessária para todo mundo! Por mais verdadeiro, útil e efetivo que o meu trabalho seja, nem todo mundo precisa dele! Livre do peso da obrigação de “ser necessária”, de “criar necessidade nas pessoas”, eu fico mais leve para continuar trabalhando, produzindo e evoluindo, me comunicando mais assertivamente com quem, de fato, precisa – e quer – o que eu tenho a oferecer enquanto profissional.

3- A consistência em dedicar tempo de qualidade a mim mesma é tão importante para a minha produtividade, quanto a consistência em dedicar tempo ao trabalho. Você pode imaginar que criar o hábito de ficar ‘de boas’ é muito mais fácil do que criar o hábito de produzir estudando ou trabalhando. Te digo com propriedade que não é! Pessoas de todas as idades encontram dificuldade em ter consistência nesses dois sentidos. Existem “os que não conseguem começar”, tanto quanto existem “os que não conseguem parar”! E a maior necessidade por trás disso é o equilíbrio.

4- Eu posso – e devo – parar quando achar necessário. Minha saúde, meu bem estar e meus relacionamentos são meus recursos mais preciosos. É deles que advém tudo que tenho e que almejo conquistar. Sem saúde, não posso trabalhar. Sem bem estar, não consigo produzir com qualidade. Sem relacionamentos nenhuma conquista faz sentido. Por isso não existe, hoje, nenhum objetivo profissional que me faça prejudicar essas três coisas. É claro que determinadas situações e fases da carreira exigem que eu estabeleça prioridades e faça adequações nos planos, na rotina e na agenda, mas nenhum compromisso profissional ou financeiro é capaz de me fazer perder um “momento que não tem preço”.

5- Não sou escrava da vontade e da motivação. Podemos agir movidos por vários fatores, princípios e valores. Às vezes não sinto vontade de fazer nada, nesses dias, se eu puder, não faço nada mesmo! Entretanto, se não puder escolher não fazer nada, faço o que tem que ser feito pela necessidade, pela responsabilidade, pela urgência, pelo compromisso, ou por qualquer outro fator diferente da vontade e da motivação quando essas me faltam. O importante é que nenhuma negatividade seja lançada sobre a decisão de fazer, ou de não fazer o que está em questão.

6- O primeiro merecedor do resultado financeiro do meu trabalho sou eu! Faz total sentido para mim destinar os meus recursos financeiros àquilo em que acredito, que necessito, que valorizo, que quero vivenciar. Sejam experiências, conhecimentos, objetos, ou outra coisa qualquer. Se quero vivenciar ou possuir algo que meus recursos financeiros me podem proporcionar, o faço. Se quero algo que tais recursos não podem me proporcionar imediatamente, me organizo e planejo para que possam em tempo determinado. A principal necessidade por trás disso é aceitação e valorização do que “já é”; em conjunto com a organização, foco e planejamento do que “virá a ser”. E isso também tem tudo a ver com consciência e gratidão.

7- O silêncio é uma prática pessoal, espiritual e, sim, profissional, por inúmeras razões: as pessoas precisam ser ouvidas, e todos os dias preciso treinar minha escuta para que ela seja atenta, inclusive ao que está por trás das palavras que eu ouço. Parte considerável dos problemas mais difíceis com os quais já tive de lidar, aconteceram por meio do “falar”. A (in)competência de falar pode comprometer de relacionamentos à imagem pessoal/profissional, sobretudo em épocas de redes sociais em que tanto se fala com tão pouca coerência. É preciso praticar silêncio, também, dentro da mente, onde ele é ainda mais difícil. Expor opiniões quando elas forem solicitas ou se fizerem pertinentes (no restante do tempo, geralmente ninguém liga!), observar as emoções antes de externa-las com palavras – na maioria das vezes, ao falar do que sentimos, nos confundimos, por falta de observação. Desenvolver o hábito do silêncio foi uma decisão que tomei e algo que trabalho em mim, precisamente, desde que li pela primeira vez autores como Hermann Hesse e Eckhart Tolle.

8- Minha vida não precisa ser perfeita nos assuntos referentes à minha área de atuação. O fato de trabalhar com desenvolvimento humano, não me obrigada a ser um ser humano plenamente desenvolvido em todos os aspectos. Ao contrário disso, faz de mim um ser humano em constante desenvolvimento e também não significa que eu mesma não precise de apoio de outros profissionais para me desenvolver. Sou escritora, também tenho formação acadêmica em Letras, e não fique surpreso ao saber que não li vários clássicos da literatura, embora eu seja apaixonada por essa arte.

Ao refletir sobre esses oito aprendizados ao longo da minha jornada profissional, percebo que acabei de reconhecer e aceitar algumas ideias e fatos que me deixam vulnerável. E ao me reconhecer como um ser que é – e que sempre estará - vulnerável de alguma forma, me sinto à vontade para conversar com “meu público”, meus coachees (efetivamente e em potencial), pela afinidade, por compartilhar das mesmas dores, anseios e inquietações, enfim, pelas vulnerabilidades que temos em comum.



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