Discussões sobre a venda de diferentes processos de desenvolvimento pessoal como processos de coaching já aconteceram inúmeras vezes, inclusive por pessoas com mais experiência que a minha e por isso posso acabar usando argumentos repetidos. Mesmo assim, gostaria de compartilhar minha visão.

Quando observado de longe (de forma ampla) todos os processos de desenvolvimento pessoal terão algo em comum, nem que seja a mera comunicação oral ou escrita entre duas ou mais pessoas. Vendo dessa forma, um livro de culinária para capacitar alguém como confeiteiro (a) e um curso superior em medicina para capacitar alguém como médico (a) são parecidos porque utilizam a comunicação entre seres humanos.

Ao mesmo tempo, observado de perto (de forma estrita) nenhum processo de desenvolvimento pessoal é igual ao outro. Pois de perto, cada detalhe é notado e faz diferença. Sob essa ótica um processo de consultoria conduzido pela Maria para elevar o lucro da fábrica do José em 15% será diferente do processo de consultoria conduzido pela mesma Maria para elevar o lucro da fábrica da Ana nos mesmos 15%.

Ou seja, visto de muito longe tudo é uma coisa só, e visto de muito perto nada é a mesma coisa. Então, a que distância o processo de Coaching precisa ser observado? De longe, onde ele será confundido com outros processos, ou de perto de onde ele distinguido dos outros processos? Reflitamos...

Ao cliente interessa o resultado. Ao profissional interessa transmitir ao provável cliente a confiança de que o resultado será atingido, e obviamente, entregar tal resultado após receber o voto de confiança do mesmo. E é aqui que a metodologia se faz necessária. Ao tratar sobre a atuação profissional na área do Coaching é importante observá-lo com esse foco: o metodológico.

Tendo estudado e ensinado metodologia científica (em ciências sociais aplicadas) na universidade, eu aprendi que a principal característica de uma metodologia, seja ela qual for, é possibilitar o alcance de resultados semelhantes a partir da reprodução das etapas prescritas. 

Assim sendo, um resultado que não pode ser reproduzido por outra pessoa é questionável. Por exemplo, alguém pode afirmar em teoria que "B" acontece por causa de "A", no entanto, sem uma metodologia isso não pode ser provado: o efeito "B" pode ter sido causado pelo fator "A" ou por dezenas de outros fatores.

O coaching não é ciência, mas possui uma estrutura metodológica. Graças a isso, os clientes têm confiança de que os efeitos do coaching são seguros e que os resultados oferecidos serão entregues. Essa confiança os leva a pagar pelo processo.

Até hoje nenhuma lei proíbe um profissional de modificar a metodologia do coaching, talvez a combinando com outros processos de desenvolvimento pessoal, e com isso prometer um processo que trará resultados até mesmo superiores aos do coaching comum. 

E, provavelmente os profissionais que utilizam metodologias derivadas realmente conseguem ajudar seus clientes, afinal hoje em dia poucos são tolos o suficiente para pagar por um processo que não dá resultado. Porém, após essa modificação, a metodologia não pode mais ser chamada de coaching, porque se tornou outra coisa. Cabe ao seu inventor nomeá-la com a designação que preferir.

O que se tem visto é que essas metodologias derivadas ou continuam sendo chamadas de coaching, ou ganham um nome composto no qual a palavra coaching está sempre presente. Isso resulta em confusão para clientes e outras pessoas interessadas em saber mais sobre o coaching e põe em risco todo o prestígio que a metodologia conquistou às custas de estudo e trabalho árduos.

Por que alguém chamaria uma metodologia modificada de coaching? Podem existir muitas explicações, e como ninguém consegue ler a mente dos outros nunca vamos saber com certeza suas reais intenções. Minha hipótese é que o profissional quer "pegar carona" no prestígio que o coaching conquistou para facilitar a comercialização de sua metodologia recém-criada.

Se esse for o caso, talvez o profissional argumente que o cliente sairá ganhando pois ele irá entregar "tudo que tem no coaching" e mais tantas outras técnicas.

Seria como alguém vender um Big Mac, um dos sanduíches mais famosos do McDonald's, e entregar um X-Tudo da lanchonete local alegando que o cliente se deu bem porque ganhou um sanduíche maior. 

Com certeza o cliente pode matar a fome com qualquer um dos lanches, mas deixo a vosso critério ponderar se é ético usar um nome conhecido para vender um produto ou serviço diferente.



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