Cuidar é um ato de amor - Na imensa correria do dia a dia, esquecemo-nos das coisas que amamos. Gastamos tanto tempo preocupados com o “jogo da vida” que deixamos de lado o ato de amar e cuidar para simplesmente focarmos em manter o que possuímos e que, em alguns casos, nem temos mais a certeza do que amamos.

Isso aplica-se para tudo na vida, nosso cônjuge, nossos filhos, nossos amigos, nossa casa, nossos bens materiais, nossos momentos bons e eventualmente os ruins. E também aplica-se, a essa tese, o ato de amarmos nosso emprego, nosso trabalho e a empresa que nos garante o sustento. Muitas pessoas mantêm o casamento, mantêm os filhos, mantêm seus bens, mantêm seu emprego, coisas que dizem que amam, mas esquecem-se de óbvio: cuidar do que se ama! Levam a vida na inércia da posse, enganam-se imaginando que se possuem, amam e enganam-se imaginando que cuidam. É um engano tratar as coisas que dizemos que amamos como “posse” e não tratar essas pessoas e coisas com um verdadeiro e inquestionável “cuidar”. O ato de cuidar reforça o amor que temos por elas.

A pouco escutei algo de um amigo que me intrigou: sua esposa, cansada dos maus tratos que ele deferia a ela, saiu de casa com o filho e pediu “um tempo no casamento”. Em decorrência dos problemas do dia a dia, das dificuldades no trabalho e da quantidade grande de responsabilidades, ele tornou-se uma pessoa rude com a esposa e acreditando que ela deveria, incondicionalmente, entender as dificuldades dele e oferecer suporte e solidariedade. Certo, um casal anda junto, atravessa as arguras e as alegrias da vida juntos, cria filhos e deve sim ser um solidário ao outro, mas não incondicionalmente. 

A premissa de “cuidar da pessoa que ama” deve ser um MANTRA em uma família, algo que seja natural e isso sim incondicional. Poucos casais lembram-se de cuidar da pessoa que dividem a cama, a casa, as contas e compartilham a criação dos filhos. Esse “cuidar” não deve ser tido como uma submissão ou obediência, mas sim como um exercício de AMAR. É preciso amar e cuidar, é preciso cuidar e amar, mesmo nos momentos difíceis e turbulentos de nossa vida profissional, problemas e desafios irão sempre existir, mas talvez a maneira mais fácil de atravessá-los, seja amando e acima de tudo, cuidando do que se ama. É preciso entender o erro e entender o verdadeiro significado de “cuidar”. 

Muito provavelmente o amigo que citei vai ficar “bonzinho por um tempo” a esposa vai voltar para casa e durante um certo tempo, ele vai fingir que vai cuidar. Cuidar de verdade ou tolerar? O casal irá se reconciliar, amar-se e cuidar mutualmente um do outro ou vão apenas tolerar-se para evitar as dificuldades e as dores da separação? Se, simplesmente o retorno do casal à vida juntos for por conveniência, uma segunda separação vai ser eminente e talvez não exista mais uma chance. É preciso um cuidar do outro, o processo de “cuidar” transformar-se em “amar” e o processo do “amar” reforçar o ato de “cuidar”.

Um exemplo simples me veio a cabeça e me atentou para a necessidade de cuidarmos das pessoas e coisas que amamos: tenho duas motos que digo que amo, no entanto, reclamo delas, reclamo que eventualmente quando vou ligá-las, pela falta de uso, elas não pegam, reclamo que elas dão despesas, que o IPVA é alto e que preciso gastar com a revisão mesmo sem estar usando se não, perco a garantia, apesar de dizer que eu as amo, eu só reclamo delas e me esqueço de cuidar, amar e desfrutar delas. É sim um exemplo tolo, mas ontem peguei as duas para dar uma bela lavada, me diverti com as “esfregadas”, me satisfiz limpando aquela manchinha de ferrugem com KAOL, me alegrou vê-las brilhando limpinhas ao sol e não cobertas pelo cinza plástico opaco que as cobria na garagem. Um súbito sentimento de gratidão me veio a mente quando eu estava cuidando delas, gratidão por tê-las na garagem, gratidão pela saúde que tenho que me permitiu trabalhar para comprá-las, gratidão por eu ter a escolha de mantê-las ou vendê-las e acima de tudo, gratidão por eu estar aqui, vivo e saudável, fazendo a tarefa simples e braçal de estar lavando as queridas motocas.

Esquecemo-nos das coisas simples, dos rituais triviais da vida, como disse, ficamos tão intensamente “correndo atrás” de trabalho e dinheiro para manter as coisas e pessoas que dizemos que amamos que esquecemos de cuidar e desfrutar dessas coisas.

Foi simples ter lavado as motos, mas despertou-me a necessidade de cuidar e valorizar TUDO que digo que amo. Subi as escadas e dei um beijo em minha esposa, me esforcei e deixei os emails de lado e fui buscar meu filho na escolha junto com minha esposa, cheguei em casa e de maneira simples, comecei a “cuidar” também da minha casa que eu tanto amo, trocando aquela lampada queimada há algum tempo e ajustando aquele trinco da fechadura.

O ato de lavar a moto, desencadeou algo ainda mais mágico: O amor ao meu trabalho. O quanto eu sou também grato pelo meu trabalho, pelas oportunidades que ele me proporciona, apesar de todo o stress e da carga de responsabilidade que vem junto. As coisas boas não se dissociam das coisas ruins e vice-versa, sábio símbolo chinês do equilíbrio da energia YIN e YANG.

Você esta cuidando de seu trabalho? Você parou alguma vez para pensar se está simplesmente mantendo seu emprego ou cuidando do seu emprego? Se você ama seu trabalho, nunca é tarde para cuidar dele e mostrar-se grato por ele. Se você não o ama, cuide dele, pondere as perdas e a falta que ele faria na sua vida, cuide da empresa e de suas responsabilidades e o “cuidar” verdadeiro irá sim desencadear o “amar”.

Quando refiro-me a cuidar não estou me referindo ao cuidar superficial como exemplifiquei em um bem material, no caso, lavando a moto. Falo de um cuidar verdadeiro e fraternal, bondoso e carinhoso. Mesmo o “cuidar superficial” que foi lavar a moto, provocou meus atos de dar um beijo em minha esposa, ir buscar meu filho na escola, cuidar da casa e acima de tudo ponderar o quão grato eu sou ao meu trabalho e a minha saúde. Tudo isso foi provocado inconscientemente e de forma espontânea, imagine o poder que isso tem quando feito de maneira autêntica, consciente, fraternal e bondosa. 
 

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