O título deste artigo refere-se a uma antiga narrativa, lida por mim há alguns anos, que figura a questão do cuidado e da escuta bem estruturada diante de uma realidade aparentemente hostil e, às vezes, dolorosa.

A narrativa conta que...

“Certa vez, havia um homem que saiu do seu próprio país e se dirigiu para o mundo conhecido como Terra dos Tolos. Logo ele avistou um grupo de pessoas que fugiam de um campo onde tinham procurado colher trigo. “Existe um monstro naquele campo”, disseram-lhe elas. Ele olhou para lá e viu que se tratava de uma melancia. Ofereceu-se para matar o “monstro” para elas. Quando acabou de cortar a melancia do caule, pegou uma fatia da mesma e pôs-se a comê-la. As pessoas ficaram ainda mais assustadas com ele do que com a própria melancia. Enxotaram-no do lugar com forcados, aos gritos: “Ele nos matará em seguida, se não nos livrarmos dele”. Aconteceu que, em outra ocasião, outro homem também saiu de sua terra e foi para a Terra dos Tolos, e a mesma coisa começou a acontecer com ele. Mas, em lugar de se oferecer para ajudar aquelas pessoas a matar o “monstro”, ele concordou com os Tolos no sentido de que devia mesmo ser perigoso, e, afastando-se sorrateiramente dele junto com aquelas pessoas, conquistou a sua confiança. Passou um longo tempo junto delas, em suas casas, até poder ensinar-lhes, pouco a pouco, os fatos fundamentais que os habilitariam não só a perderem o medo das melancias, mas até mesmo a cultivá-las para si mesmas.” *

Pois bem, em nosso papel de Coach o caminho de uma escuta estruturada e atenta pode nos levar mais longe. Para escutar bem é preciso silenciar. Silenciar nossos desejos, silenciar a vontade de ser um herói, silenciar a vontade de ensinar e dizer por onde e como andar. Para bem escutar o silêncio se faz mais que necessário. Como dizia Rubem Alves “não basta ter ouvidos para ouvir, é preciso que exista silêncio dentro da alma.” **

Quando silenciamos a alma, colhemos seu fruto: a escuta. Quando escutamos, podemos nos deleitar com o sabor de outro fruto: a empatia. E, pela empatia, podemos caminhar em parceria rumo ao "cultivo das melancias".


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

* NOUWEN, Henri J. M.; McNEILL, Donald P.; MORRISON, Douglas A. Compaixão: reflexões sobre a vida cristã. Tradução de Attilio Brunetta. São Paulo: Paulus, 1998.

** ALVES, Rubens. O amor que acende a lua. 10.ed. Campinas: Papirus, 2004.



Informamos que esse texto é de inteira responsabilidade da autora identificada abaixo.