Quantos por cento do seu dia você arriscaria classificar como momentos de paz, felicidade e plenitude? Em todos os outros, quais os tipos de pensamentos e sentimentos estão presentes? Remorso? Ansiedade? Irritabilidade? Medo? Desejo por ter mais? Insatisfação sem fim?

A verdade é que há uma parte em cada um de nós que paradoxalmente se alimenta e gosta desses tipos de sofrimentos. Se não fosse assim nossas mentes não seriam tão atraídas por pensamentos que os remetam, por vícios que os perpetuem.

Você pode chamar essa parte dentro de você como preferir: mente, piloto automático, personalidade, autossabotador, criança interior, etc. Eu a chamarei de ego.

O ego veste toda essa energia psicológica e se identifica através dela, criando personagens e papéis a serem seguidos na vida social. O sofrimento gera as cores, os contornos e as formas do nosso ego, que ilusoriamente cria falsas crenças de autopreservação, de destaque e evidência social em sua incessante e infrutífera busca pela satisfação no "mundo de fora".

Toda essa carência e empenho do ego em se destacar e se satisfazer é densa e cansativa para o nosso ser, o que contribui para a criação de mais energia psicológica e alimenta o ciclo de sofrimento. Grande parte das pessoas chegam a tomar consciência do seu próprio ciclo de autossabotagem em alguns momentos, mas logo são atraídas novamente pela inércia tóxica do ego para os mesmos comportamentos e padrões mentais nocivos.

Felizmente, porém, cada vez mais pessoas parecem estar acordando de seus próprios pesadelos psicológicos e decidindo dar um basta na escravidão primordial: a escravidão mental.

É necessário coragem, discernimento e disciplina para se "despir" de toda essa roupagem psicológica, principalmente com o imenso fluxo de inconsciência que a sociedade moderna estimula incessantemente. 

As pessoas que corajosamente decidem interromper os próprios ciclos de sofrimento acabam se tornando alvos do ego coletivo, que fará todo o possível para trazer o indivíduo novamente para o estado de piloto automático. Em seu instinto de autopreservação, o ego coletivo bombardeará esses indivíduos com diferentes formas de preconceitos e rotulações.

Observada e compreendida a pequenez do ego, porém, é possível transformar esse monstro de sete cabeças em uma inofensiva e inconsciente joaninha. Esse é o momento da transcendência e da transformação.

Muito além do ego, existe algo sobre nós que está além de toda compreensão racional: alma, espírito, presença, ser, deus, etc. Eu chamarei esse algo de consciência.

Como um pai ou mãe muito amorosos, a consciência assiste pacientemente a trajetória da nossa criança interior, dando todo o espaço possível para que ela erre, se desenvolva e quem sabe um dia transcenda as limitações dessa pequena mente, mergulhe no oceano da consciência e viva em harmonia com o seu propósito essencial de vida.

Lembre-se e liberte-se da ilusão.



Informamos que esse texto é de inteira responsabilidade do autor identificado abaixo.