O óbvio não é evidente. Quantos anos a humanidade levou para descobrir a roda? Alguns povos pré-colombianos bastante avançados nem sequer chegaram a descobri-la! 

O óbvio só se revela para olhos prontos para enxergá-lo. Tudo é uma questão de perspectiva. Não existe nenhum aspecto da realidade que não esteja diante de nós. Deve ser por isso que os santos, os místicos e os sábios raramente fazem perguntas. Os poetas também o intuem. A verdade está à nossa frente.

Num dos seus livros, o rabino Nilton Bonder nos mostra que a realidade possui quatro níveis de percepção: o aparente do aparente, o aparente do oculto, o oculto do aparente e o oculto do oculto. Sendo que a mais insondável destas dimensões do real, o oculto do oculto, só nos é acessível por meio do aparente do aparente, ou seja, daquilo que chamamos de “óbvio”.

Ver o que está, em tempo integral, tão claramente diante de nós é uma grande descoberta. O óbvio é o tesouro enterrado embaixo da nossa cama, sempre ao alcance das mãos. O universo se esforça para nos ensinar os seus segredos. Somente aquelas pessoas mais intuitivas captam a mensagem com mais clareza.

Inspirado no pensamento de Bonder, é possível identificar três dimensões no processo da escuta atenta: o aparente do aparente, o oculto do aparente e o aparente do oculto. O aparente do aparente diz respeito à dimensão do óbvio e do concreto. É o que é facilmente ouvido, percebido, entendido, mensurado e quantificado. 

No entanto, “um perigo constante ronda a dimensão do óbvio e do concreto. Trata-se da possibilidade de se perder a compreensão de que o aparente do aparente é sempre a representação de uma redução quando percebido através da perspectiva da existência. Reside aí o embrião da confusão e da expectativa de que tudo possa ser reduzido a esta estrutura tão confortavelmente perceptível pela mente humana” (Bonder, 1995:17/18). Associando com a metáfora de um iceberg, o aparente do aparente é a parte que não está submersa na água.

Um coach que não exercita a escuta atenta pode concluir que o aparente do aparente traduz todas as expectativas e realidade de seu coachee. Entretanto, o profissional que pratica a escuta atenta entende que essa dimensão é, muitas vezes, insuficiente para esse fim.

A dimensão oculto do aparente reflete o que está por trás do aparente e que pode ser percebido, desde que seja buscado. Convém ressaltar que em momento algum esta dimensão propõe algo que não possa ser categorizado como óbvio, mas sim, que este óbvio se encontra numa condição de oculto. Em geral, a descoberta de algo oculto do aparente gera em nós uma grande surpresa: como é que não percebemos antes?

No processo de comunicação, o oculto do aparente costuma manifestar-se sob vários aspectos, e dentre eles estão o tom de voz, pelas reações, pela linguagem corporal e pelo não verbal.

A terceira dimensão é conhecida como aparente do oculto e corresponde àquilo que é percebido, mas não se sabe como explicar. Estamos no campo da intuição e pode ser exemplificada quando, mesmo faltando dados concretos, supomos que uma pessoa possa não estar apresentando a sua verdade, o que realmente quer para sua vida.

O aparente do oculto é um mergulho na subjetividade e pode se manifestar pelo olhar, pelo gesto, por uma expressão, entre outras formas. Retornando à metáfora do iceberg, pode ser feita uma analogia com a parte que está submersa; não está aparente e não percebemos a sua profundidade, mas sabemos que ela está lá.

A identificação e compreensão dessas dimensões ampliam a nossa capacidade da escuta atenta, da escuta estruturada e da construção de vínculo de confiança e empatia com o outro, que são as competências fundamentais de um coach focado no desenvolvimento de seu coachee.

Ao praticar a escuta atenta, o coach aumenta suas probabilidades de compreender o seu cliente e, a partir desse entendimento, poderá apoiá-lo de forma eficaz no seu autoconhecimento e no desenvolvimento das competências necessárias para o alcance de suas metas pessoais e/ou profissionais.



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