Adquiri recentemente uma espécie de mania: quando alguns comportamentos à minha volta se destacam, sejam pela forma positiva ou negativa com que se apresentam, sinto uma vontade incontrolável de provocar uma reflexão sobre o assunto. É que acredito tanto no autoconhecimento como porta principal para o crescimento e para as conquistas, que entendo estar, de alguma forma, auxiliando os outros. E a mim mesma, é claro; afinal, não sou eu a primeira a refletir?!

Você já se deparou com alguém que tem dificuldade em dizer não? Pois tanto em meu ambiente social, como no trabalho, conheço pessoas assim. Normalmente são rotuladas como “doces”, “maravilhosas”, “um amor”, entre outros adjetivos; mas quem se dá conta do verdadeiro sentimento que cresce nessa pessoa com o passar do tempo? Quem já percebeu que muitas vezes elas se sentem amarguradas por concordarem em fazer tudo o que lhes pedem ou sugerem? E quanto à vida profissional, essas pessoas apresentam crescimento contínuo ou muitas vezes são ultrapassadas pelas próprias a quem ajudam?

A palavra “não” tem muitas vezes um efeito negativo e provoca incômodo em quem diz e em quem ouve. Entretanto, assim como o “sim”, o “não” nada mais é do que uma escolha, uma opção, uma forma de decisão.

E quanto mais se tem dificuldade em dizer não, mais algumas pessoas nos demandam. É uma espécie de egoísmo, muitas vezes inconsciente, que se instala em quem pede. Mas isso vai sufocando o outro, até que um dia ele adoece porque a angústia se interioriza; ou ele explode. E a situação toma uma dimensão absolutamente desnecessária: amizades se desfazem, laços familiares se estremecem e prejuízos no trabalho ocorrem.

Dizer não tem a ver com gestão do tempo. Quem não consegue dizer não aos outros tem muito mais dificuldade em estabelecer prioridades e estruturar suas tarefas e, consequentemente em fazer as entregas necessárias. Quem não se lembra do coleguinha da escola que ajudava a todos na resolução dos exercícios, nos trabalhos e nas provas? Alguém lembra também como eram suas notas?

Sabe aquele irmão, pai, mãe ou outro parente a quem todos recorrem quando precisam de algo? Já parou pra pensar o quanto é sufocante pra ele/ela estar envolvido continuamente em problemas que não são seus? Já parou pra pensar que ele talvez quisesse que alguém o ajudasse de vez em quando a resolver os seus próprios problemas ou que ele talvez não consiga usufruir de algo tão precioso chamado paz?

Saber dizer não passa por confiança em si mesmo. Pessoas com dificuldade em dizer não muitas vezes têm receio de não serem aceitas e abrem mão de seus desejos e necessidades porque temem desagradar, ser excluídas. E quando de forma mais intensa, mergulham num processo de auto anulação. Esse é o custo!

Na criação dos filhos, as consequências são costumeiramente negativas. "O sim só tem valor para quem conhece o não”; Içami Tiba, autor do livro Quem Ama, Educa. Já presenciei relato de adolescente que não se sentia amado porque não tinha limites impostos pelos pais. Educar passa por estabelecer limites e isso decorre da correta dosagem entre a permissão e a negação.

Como disse no início, “sim” e “não” são escolhas. E o importante é sabermos qual delas fazer, pois tanto há hora de um, quanto do outro. O que se diz muitas vezes não é o problema; como se diz é a questão. Saber dizer e ouvir o “não” é uma questão de respeito. E eu preciso ser a primeira pessoa a me respeitar.

Você se deu conta de que isso lhe acontece e quer começar a mudar? O primeiro passo é conhecer a si próprio, seus anseios, suas necessidades, seus limites. Encoraje-se para lidar com reações diversas, com a plena certeza de que o clima negativo passa bem mais rápido que a angústia que se instala em você. Pense em formas gentis de negar; receber um sim algumas vezes é pior que um não. Se a relação se abalar sobremaneira, reveja se o sentimento que você nutre é recíproco!

 

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