Escrito por Sulivan França - 14 de Junho de 2019

Você está pronto? Que tal olharmos alguns destaques dos noticiários?

Bullying, vandalismo, insegurança urbana, violência doméstica, criminalidade em alta, casos de corrupção, assassinatos por motivos fúteis e atos de intolerância. Há algumas décadas, é impossível assistir um telejornal ou acessar um site jornalístico e não se deparar com histórias com ingredientes terríveis. Elas parecem nos alertar para a desintegração da civilidade e da segurança, como se o mundo estivesse sendo varrido por um tsunami de impulso mesquinho que ameaça arrastar tudo de forma desenfreada.

Na verdade, tais notícias apenas refletem, em maior escala, um arrepiante aumento da incapacidade emocional, e também retratam o crescente descontrole, desespero e inquietação nas famílias, nas comunidades e em nossas vidas em coletividade. Esta raiva, angústia e ansiedade, em volume progressivo, são frutos de crianças solitárias, trancadas com a TV que lhes serve de babá; de uma infância abandonada, esquecida ou maltratada; ou ainda da desagradável violência conjugal.

O mal-estar decorrente disso está presente nas estatísticas que apontam para um aumento mundial dos casos de depressão e de agressividade. Em situações mais extremas, multiplicam-se as histórias de pessoas armadas que realizam massacres em escolas, escritórios ou espaços religiosos, como templos ou igrejas. Onde está o sentido disso tudo?


Procurar as razões que explicam este cenário é o tema central do livro "Inteligência Emocional", escrito pelo psicólogo norte-americano Daniel Goleman. A obra investiga os motivos pelos quais a violência cotidiana e a inaptidão emocional parecem ter se intensificado. Como efeito, a sociedade vive um estado de tensão pós-traumática coletivo.

Faça um teste: reflita sobre quantas pessoas você conhece que já manifestaram algum tipo de depressão ou sobre exemplos de agressividade que você presenciou recentemente

Embora, olhar ao redor pareça desanimador, as últimas décadas também trouxeram um número inédito de estudos científicos sobre as emoções. Como nunca ocorreu antes, passou a ser possível ver o cérebro em funcionamento, graças às novas tecnologias. Imagens tornaram visíveis o que sempre foi um grande mistério: como atuam as redes de células cerebrais enquanto pensamos, sentimos, imaginamos ou sonhamos. Assim, estes dados permitem entender como os centros nervosos nos levam a raiva ou as lágrimas.

Temos informações sem precedentes sobre os mecanismos das emoções e suas deficiências, o que coloca foco em alguns novos remédios para essa crise emocional coletiva. Este mapeamento da mente desafia quem acredita que o Quociente Intelectual - QI é o maior responsável pelo nosso destino e que isso já está determinado, em grande parte, geneticamente. Essa visão não considera alguns pontos: o que podemos mudar para ajudar nossos filhos e as futuras gerações a se sentirem melhor? Ou quais são os fatores que entram em jogo, por exemplo, quando pessoas com um alto QI fracassam e aquelas com um QI mais modesto se saem surpreendentemente bem?

Sem dúvida, o que faz a diferença são aptidões de inteligência emocional, que incluem o autocontrole, o zelo, a persistência e a capacidade de automotivação. E tais capacidades podem ser ensinadas. Além disso, existem questões morais, uma vez que vivemos em um momento que o egoísmo, a violência e a mesquinhez de espírito parecem estar fazendo apodrecer a bondade de nossas relações com o outro. Por isso, é importante que a inteligência emocional esteja ligada com os sentimentos, o caráter e os instintos morais. Posturas éticas fundamentais na vida vêm de aptidões emocionais.

Faça um teste: pense sobre quem você conhece que demonstra ter um QI alto, mas fracassa, assim como, aqueles que fazem sucesso mesmo sendo "menos inteligentes".

O impulso, por exemplo, é o veículo da emoção. A semente de todo impulso é um sentimento explodindo para se tornar ação. Os que estão à mercê dos impulsos, que não possuem autocontrole, sofrem de uma deficiência moral. A capacidade de controlar os impulsos é a base da força de vontade e do caráter. De forma similar, a raiz do altruísmo está na empatia - a capacidade de identificar as emoções nos outros. Sem a noção do que o outro necessita ou de seu desespero, o envolvimento é impossível. E se existem duas posições morais que nosso mundo exige são o autocontrole e a compaixão.

O filósofo grego Aristóteles já tratava do desafio à nossa capacidade de equilibrar razão e emoção. Nossas paixões, quando bem exercidas, têm sabedoria, orientam nossos pensamentos, valores e nossa sobrevivência. Mas, também, podem facilmente cair em erro e fazem isso com bastante frequência. Como aponta Aristóteles, o problema não está na paixão, mas na adequação da emoção e sua manifestação. Então, o desafio é como levar inteligência às nossas emoções, civilidade ao mundo e envolvimento à nossa vida em comunidade.

Ao investigar porque a evolução da espécie humana deu a emoção um papel tão essencial em nossa mente, os cientistas verificam que, em momentos decisivos, ocorreu um domínio do coração sobre a razão. Segundo estes pesquisadores, são as nossas emoções que nos orientam diante de um impasse e quando temos que tomar providências importantes demais para serem deixadas a cargo apenas no intelecto. Alguns exemplos disso são quando estamos em perigo, ao experimentar a dor de uma perda, na necessidade de não perder a perspectiva apesar dos percalços, na ligação com um companheiro, na formação de uma família.

Faça um teste: você se considera alguém mais racional ou emocional de um modo geral? Pense em exemplos que demonstrem como as emoções atuam em seu desempenho.

Cada tipo de emoção que vivenciamos, nos predispõem para uma ação imediata. Cada uma sinaliza para uma direção que, diante dos desafios enfrentados pelo ser humano ao longo da vida, se mostrou acertada. À medida que, ao longo da evolução humana, situações deste tipo foram se repetindo, a importância do repertório utilizado para garantir a sobrevivência da nossa espécie foi sendo atestada. Este conjunto de informações ficou gravado no sistema nervoso humano, como inclinações inatas e automáticas do coração.

Uma visão da natureza humana que ignore o poder das emoções é lamentavelmente míope. Como sabemos por experiência própria, quando se trata de moldar nossas decisões e ações, a emoção pesa tanto quanto a razão. As vezes muito mais. Ao longo da história, se enfatizou demais o valor e a importância do puramente racional na vida humana. Para o bem ou para o mal, quando são as emoções que dominam, o intelecto não pode nos conduzir a lugar nenhum.

Porém, embora nossas emoções tenham sido guias sábios no longo percurso da evolução humana, as novas realidades, que a civilização tem encarado, surgiram com uma velocidade impossível de ser acompanhada pela marcha lenta do nosso desenvolvimento. No decorrer da história humana, pressões sociais buscaram impor normas para conter o excesso emocional que emerge como ondas de dentro de cada um de nós. Apesar disso, as paixões muitas vezes soterram a razão.

 Isso tem origem na arquitetura básica do nosso cérebro. Em termos do plano biológico dos circuitos neurais básicos da emoção, aqueles com os quais nascemos são os que melhores funcionaram nas últimas 50 mil gerações, mas não para as últimas 500. E, certamente, não para as últimas cinco. As lentas e cautelosas forças da evolução que moldaram nossas emoções têm cumprido sua tarefa ao longo de 1 milhão de anos. 

Nos últimos 10 mil anos, porém, quase não houveram mudanças significativas no que se refere a nossa biologia para a vida emocional. Nesse período, ocorreu o rápido surgimento da civilização humana e a explosão demográfica de 5 milhões para 7 bilhões de habitantes sobre a Terra.

 Para o melhor ou o pior, a forma como avaliamos situações complicadas com as quais nos deparamos e nossas respostas a elas são moldadas não apenas por nossos julgamentos racionais ou nossa história pessoal, mas também por nosso passado ancestral. Assim, com frequência enfrentamos dilemas pós-modernos com repertório apropriado para as urgências da vida pré-histórica.

Faça um teste: reflita como você é em relação aos impulsos. Como você avalia seu autocontrole em relação aos impulsos? Como você poderia melhorar nesse aspecto?

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