A resposta para a pergunta do enunciado é simples: Você não deve esperar do outro uma atitude que você teria porque o outro é potencialmente diferente de você. Embora pareça uma resposta óbvia e simples, a fundamentação desta diferença entre o outro e você, é motivo de estudos profundos.

Psicanaliticamente, os seres humanos são classificados em neuróticos, psicóticos e perversos. Os dois últimos fogem mais do padrão de normalidade para a sociabilização. Os psicóticos, geralmente, têm uma visão distorcida da realidade que os fazem perceber coisas que a maioria das pessoas não perceberia. Costumam ter visões, escutar coisas, ter paranoias etc. Somam aproximadamente menos de 1% da população. Não é possível esperar deles que percebam o mundo como você o faz. Já os perversos têm mais propensão para mentir, manipular e cometer crimes e, na maioria das vezes, não conseguem sentir culpa. Chegam a 4% dos seres humanos. Ou seja, estes dois grupos têm maneiras bem peculiares de lidar com a vida, o que causaria espanto a uma pessoa “normal”.

Ocorre, porém, que muitas pessoas consideradas normais, esperam de um perverso, por exemplo, uma atitude que ele dificilmente teria, dadas suas configurações mentais. Como menciona a psiquiatra “Ana Beatriz B. da Silva” em seu livro Mentes Perigosas “Os psicopatas (perversos) não sentem compaixão”, mas sabem fingir muito bem, o que causa traumas em pessoas que esperam uma atitude empática de um perverso.

Já o universo dos chamados neuróticos pela psicanálise, são todos os demais - a grande maioria de nós - os normais. A tal “neurose” que temos é baseada na maneira que lidamos com nossos desejos, com as outras pessoas e os significados dos eventos da vida em cada uma das fases do nosso desenvolvimento. Existem “n” tipos de neuróticos, de obsessivos a histéricos, em vários níveis e com diversas variações e objetos analisados, fazendo com que cada pessoa seja um ser singular que tenda a se comportar de maneira especial diante de cada evento da vida.

Conforme vamos crescendo, segundo a psicanálise, vão se desenrolando diversos eventos que causam os chamados processos de “recalque” que por sua vez influenciam o nosso inconsciente dando a ele um formato próprio, com seus traumas e significantes únicos. Assim sendo, o valor exato dos seus desejos, medos, anseios e gostos são, muitas vezes, diferentes do que ocorre com o outro, o que leva a você reagir diante da vida de maneira diferente das demais pessoas, muito embora tenhamos reações parecidas a eventos genéricos.

Isto significa que um evento que provoca uma reação em você, não vai, necessariamente provocar a mesma reação no outro, o que, pode ser ilustrado através das diferenças culturais. Um atraso para um brasileiro pode ser considerado normal, para um europeu pode ser uma grande falta de consideração ou até ofensa. Esta mesma lógica pode ser aplicada a você e o outro em diferentes contextos como: demonstrar sentimentos, ter sensibilidade, precisar de companhia, ficar ansioso, ficar contente, ficar raivoso, ser organizado, ser atencioso, sentir ciúme, ter bom senso etc. Estes exemplos de atitudes e sentimentos variam de pessoa para pessoa e podem ser acionados por eventos particulares a cada um dependendo do seu histórico de vida e cultura, que por sua vez, formam sua personalidade. Há quem sinta ciúme de amigos e há quem não sinta. Há quem ache bom-senso tirar os sapatos antes de pisar num tapete como há quem o faça sem constrangimento, por exemplo. Pedir a outra pessoa para usar o bom senso é muito perigoso! O bom senso dela pode não ser o mesmo que o seu.

Existem outras diversas formas de classificar a personalidade humana, mas a conclusão é: somos especiais e potencialmente diferentes dos demais. A sua lógica não é, necessariamente, a mesma que rege a maioria das pessoas. Um dos grandes segredos para relacionar-se bem é repeitar as diferenças tendo em mente que o outro não vê, exatamente, as coisas como você vê, porque a vida o fez da maneira como é, como a vida fez você como você é!



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