Um leitor me mandou uma sugestão para este texto, para que eu falasse sobre o acúmulo de funções que acaba ocorrendo nas empresas. Parei por um tempo para analisar currículos, falar com colegas e observar o quanto de tarefas uma pessoa diz que realiza em um cargo. Percebi que muitas delas (por volta de 80%) possuem atividades que nada têm a ver com o cargo para que foram contratadas.

Vejo que os quatro principais tipos de acúmulo:

- Empresas pequenas que contratam poucos funcionários e eles fazem de tudo. Geralmente é avisado na entrevista que isso vai acontecer e a pessoa já entra sabendo.

- Empresas que promovem funcionários após verificar que ele suporta muito mais tarefas do que somente as referentes a seu cargo. O estresse é recompensado pelo aumento salarial, o que funciona por tempo determinado.

- Empresas que exploram funcionários que vão cobrindo uma ou outra tarefa, a princípio temporariamente, mas que se tornam definitivas. Quando se dá conta, o funcionário faz mais de 50% de tarefas não relacionadas à sua função inicial. Eventualmente, pode ser reconhecido por isso.

- Cargos que assumem tarefas similares, principalmente se forem de liderança. Vão somando novas atividades e novas áreas e quando percebem estão com um monte de liderados e responsabilidades.

Por que isso acontece?

Geralmente, falta de estrutura ou desorganização na empresa. Combinado, claro, a um funcionário prestativo ou formatado para obedecer e aceitar qualquer coisa.

Isso é um abuso?

Isso pode ser considerado um abuso por parte dos patrões ou gestores, principalmente quando as funções acumuladas vão sendo ?empurradas? sem combinar previamente com o funcionário, e quando se percebe má fé do superior. É muito particular, cada caso precisa ser visto a fundo, mas existem ocasiões em que isso pode configurar assédio moral. 

Como evitar?

Muitas pessoas, principalmente as baby boomers e as da geração X, cresceram em busca de emprego e estabilidade, e aprenderam com os pais e na escola que devem obedecer, atender a todos os pedidos do chefe para se manterem no emprego. Até por isso temos um conflito sério de gerações nos ambientes de trabalho atuais.

Essas pessoas têm mais dificuldade em dizer não para qualquer tipo de trabalho, pois aprenderam que isso é preguiça ou má vontade. Parece muito lógico para elas, e também para seus chefes, que não seja correto dizer não a um trabalho pedido, e que recusar pode significar uma demissão.

Mas a geração Y já está em posições de gestão, e as coisas estão mudando. Em muitas empresas, já mudaram.

Independente de contar com a mudança natural, hoje já é muito aceitável ter conversas mais francas com gestores. Por mais intransigentes que sejam, toda essa história de assédio, processos e coisas até exageradas, acabam servindo de alguma coisa. Gestores retrógrados também se preocupam em ficar longe deste tipo de problema.

Então, não fica mais tão inadequado conversar sobre uma nova tarefa que você considere fora de suas especialidades como profissional, mesmo que seja para saber se há um prazo, ou se ficarão para sempre na sua pasta. Mostrar que você está notando que está sendo sobrecarregado (se realmente estiver, claro), pode ser uma forma de avisar a seu chefe que você está atento ao que ele está fazendo.

Não posso fazer isso

Sei que nem esse posicionamento básico é possível em muitos casos, visto que a maioria das empresas e chefes ainda não acompanham evolução alguma nas relações de trabalho. E costumam usar a demissão como resposta para qualquer questionamento. 

Se sua situação está muito apertada, sobrecarregada e sem perspectiva de melhora, e seu nível de estresse está alto e sua autoestima está baixa, é hora de refletir sobre o quanto isso vale a pena. A empresa em que você trabalha não é a única que existe para se trabalhar. E para mudar sua situação, você não precisa amargar crise ou desemprego, se fizer com planejamento. Pense na sua carreira, seu futuro e sua saúde.