Não que crise seja algo raro na vida do brasileiro, mas, ultimamente, a palavra tem sido evocada com maior frequência – inclusive em momentos descontraídos, nos quais poderiam imperar o bom humor e a espontaneidade. Paremos um pouco para pensar sobre os motivos pelos quais nossos espaços foram tão rapidamente ocupados pela crise e por uma série de comportamentos ansiosos que acabam, com a nossa permissão, dominando o dia a dia e nos levando a acreditar – ou, ao menos, a esperar – que o pior está prestes a acontecer.

De fato, somos todos corresponsáveis por esse movimento eletrizante que domina nossos pensamentos, leva-nos ao desespero e, em alguns casos, mergulha-nos na fantasia de que ações emergenciais e quase sem nenhuma reflexão ou planejamento poderão trazer soluções mágicas para questões consideravelmente complexas.

Assim, em vez de fazermos um movimento saudável em busca de equilíbrio e homeostase, visando atender nossas necessidades essenciais, mergulhamos mais e mais no universo angustiante de demandas infindáveis e urgentes, deixando-nos contaminar por uma atmosfera adoecedora e que nos faz descuidar de nós mesmos e daquilo que é fundamental à transformação de sonhos em realizações.

Como nossa vida é organizada em grupos e cadeias interdependentes, do mesmo modo que em diversas estruturas empresariais, ao descuidarmos da gestão interferimos diretamente em todos os processos, fluxos e recursos, prejudicando muitas vezes tanto as atividades estratégicas, quanto as táticas e as operacionais, criando um cenário consideravelmente prejudicial, conflituoso e desmotivador.

Todo cuidado nesse momento não é pouco, mas valioso. O ser humano ainda é um dos raros sistemas que não pode ser totalmente ou em sua maioria substituído, e isso se deve, muito provavelmente, à riqueza da sua constituição. A máquina humana tem seus limites e fragilidades e sinaliza para seu momento de manutenção e reparo. Caso, ingenuamente, insistamos em continuar com o mesmo nível de exigência, a estrutura fatalmente falha – e sobre isso não há controle. Felizmente.

Todavia, existe a possibilidade de controlarmos o nosso funcionamento de modo a promovermos bem-estar se utilizarmos a ferramenta da prevenção, pois dela provém um sem número de possibilidades de modificação dos rumos de nosso modo de ser no mundo, o que pode nos proporcionar rendimento e atuação permanentes, sem tantas flutuações de produtividade, humor ou energia que tanto prejudicam o andamento dos processos no mundo corporativo.

Se somos capazes de montarmos uma estratégia preventiva para as diversas crises econômicas que enfrentamos de tempos em tempos, por que não investir em estratégias para nos tirar da crise? Essa talvez seja uma das principais reflexões que podem reestabelecer uma relação saudável entre as demandas organizacionais e pessoais, deixando claro e explícito quem é o dono de quem, ou seja, quem realmente comanda e dá as diretrizes da carreira e do caminho que está sendo trilhado.

Muitas vezes não nos damos conta de que estamos automatizando e, por consequência, criando um esvaziamento da forma como escolhemos viver a vida, esgotando as condições de autonomia para dar lugar a uma espécie de sobrevivência, conformando-nos com a mediocridade. Por isso, precisamos ser lembrados da importância do autocuidado e dos momentos de reflexão, para que possamos nos destacar para além do universo profissional, deixando de ser medianos conosco e com aqueles que escolhem estar ao nosso redor.

Um primeiro passo para começar a transformar esse panorama pode consistir numa simples pergunta baseada nos princípios propostos por Maslow em sua teoria motivacional: quais são suas necessidades nesse momento, o que você verdadeira e genuinamente precisa se proporcionar e que não pode – e não deve – ser muito diferente ou distante de seu desejo original?

Fica a dica: organizar uma lista breve e reservar um tempo para se dedicar à organização e à execução dos desejos é tarefa primordial para quem está buscando se tornar uma pessoa melhor e superar esse momento de pressão e desestruturação coletiva pelo qual passamos. Além disso, é preciso tomar as rédeas que determinam a direção da sua vida, podendo assim mapeá-la para chegar a uma série de consequências positivas decorrentes dessa iniciativa pessoal e intransferível.

Organizações maduras e estruturadas sabem que esse contexto de crise é um dos melhores momentos para reunir as verbas residuais e investir internamente no capital humano, visto que não há mais o que produzir tecnicamente para reversão desse quadro. Que tal aproveitar o modelo para começar a reunir a energia que ainda resta e se arremessar em sua reestruturação interna? Indivíduos com uma visão apurada para investimentos sabem verdadeiramente identificar terrenos aparentemente inférteis, mas que se adequadamente aproveitados e bem desenvolvidos podem trazer lucros e dividendos não de forma efêmera e superficial, mas profunda e perene.



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