A onda agora é ficar online. A internet, o universo cibernético, a globalização digital, chegaram para ficar. Enquanto a internet somente se mostrou a partir da segunda metade dos anos 90, as tecnologias subsequentes vêm crescendo, se reproduzindo, numa efervescência tremenda, num amadurecimento quase que instantâneo, tornando o produto lançado hoje, obsoleto no próprio dia seguinte. 

Facebook, Ipads, Ipods, Twitter, WhatsApp, entre muitos outros meios sociais. É o mundo globalizado, integrado, informado. Fato ocorrido no Japão pode ser transmitido em tempo real para um celular no Brasil. A informação secreta pode se tornar o assunto de primeira página de um tabloide internacional simplesmente porque alguém resolveu enviar um torpedo...

É a modernidade. É uma maravilha, algo impressionante de se ver. Quem vem desde o século passado, enxerga com mais clareza a explosão da indústria cibernética! É indiscutível o progresso em todas as áreas, na ciência, na indústria...

Hoje é mais difícil guardar segredos, produzir materiais exclusivos ou mesmo definir com precisão o verdadeiro idealizador de uma ideia... O malfeito ganha público numa velocidade inacreditável, e o enaltecimento ou mesmo a ridicularização de uma imagem se tornaram instantâneos. 

É verdade que a internet aproximou as pessoas. O mundo está cada vez menor. O ente querido que embarca para o Canadá está próximo nas telas do WhatsApp, e pode conversar com a família via Skype. O game norte-americano pode ser solicitado ao amigo em viagem aos Estados Unidos no momento em que este ingressa na loja especializada, através de um pedido gratuito, feito aqui do Brasil, por meio de um simples dedilhar no Iphone.

Tudo ficou mais fácil. Toda a comunicação se tornou mais acessível. A conexão interpessoal, internacional, é coisa constante, transitável, bastando, para isso, aquele nosso tão conhecido celular, numa versão mais moderna...

E assim, possuir tal modernidade se tornou algo indispensável, e acompanhar o progresso tecnológico, uma meta diária na vida das pessoas. Conseguido o primeiro iphone 4, a meta do dia seguinte é a aquisição do Iphone 5, depois virão o 6, o 7, o 8, assim por diante. E os indivíduos seguem suas vidas numa necessidade consumista desenfreada, numa fome de ter, de acompanhar o desenvolvimento da modernidade constante, de ter, de conquistar o tablet último lançamento – mesmo que não tenha a intenção de fazer a leitura de textos virtuais, e nem mesmo goste de ler... 

Mas o fato é ter de ter. Mesmo que não tenha como pagar, mas é possível dividir em dez prestações, e todo mundo lá na rua já tem. Mesmo que eu trabalhe no mesmo local de todos os meus amigos do grupo do “zap”, a conversa é online, todos já têm, e eu preciso fazer parte disso para me sentir bem... 

E ainda que não falemos mais a fundo do consumismo exagerado e desenfreado, da irresponsável disputa pelo ter em detrimento do ser, não podemos nos calar perante a total ausência do contato presencial. O que se vê hoje, não como complemento ou para encurtar distâncias, mas como uma opção de fuga da realidade, é a relação virtual.

Casais em restaurantes “zapando” freneticamente, mas de forma individual, cada qual no seu WhatsApp, numa interlocução não presencial – eles não estão curtindo o momento juntos, mas cada qual em sua viagem tecnológica pessoal. Provavelmente contando para alguém estar no restaurante com aquela pessoa, ou fotografando o prato principal. 

Quem sabe algum deles, em algum momento, possa ter o aparelho inoperante e uma conversa seja iniciada, o antes tão conhecido diálogo?

Saiam nas ruas e observem. Estão todos juntos na sala de espera, mas não se relacionam, não trocam ideias entre si, se mantêm cabisbaixos, mexendo rapidamente os dedos de ambas as mãos sobre o aparelho que: conversa, envia mensagens, textos prontos, copia e cola imagens, links, vídeos...

Até os shows estão sendo assistidos através das telas dos celulares e afins, porque a foto ou a filmagem devem ser garantidas para postagem instantânea nas redes sociais e informar: “estou aqui”!

É impressionante o progresso tecnológico. É incrível a facilidade que a informatização, que a sistematização promove na vida cotidiana das pessoas. Mas é também decepcionante a facilidade com que as pessoas optam por vícios, por mecanizar os atos, por superficializar as relações. 

Talvez seja aquele velho medo de se conhecer, de se mostrar, de ser, o tão conhecido e humano medo de viver, que antes era objeto de buscas psíquicas ou espirituais, hoje “resolvido” num teclar virtual. 

E assim, vemos indivíduos abrindo mão de relações reais, de felicidade e sofrimento reais, da espontaneidade, da convivência, da beleza de ser diferente, e optando por mais um vício, a robotização virtual, como esconderijo, como um provável refúgio à prova de espelhos. 



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