Entrei em um ambiente e, sem querer, flagrei uma conversa entre duas pessoas. Cheguei no exato momento em que uma disse para a outra a seguinte frase: “Eu não dou sorte com pessoas de cor”. Preferiria não ter presenciado tamanho absurdo.

Chocado com aquilo, comentei o fato com alunos. Sem citar nomes e detalhes, demonstrei a indignação que senti com a fala racista. Para a minha surpresa, os estudantes não estranharam tanto. Um deles afirmou: “Os negros são racistas com eles mesmos”.

Naquele instante, percebi como sou inocente em relação a essa questão. O brasileiro adora mostrar como é um povo receptivo, mas o racismo é algo que ainda está impregnado na sociedade. Não consigo digerir que, em 2014, a situação seja essa.

Quando criança e adolescente, lembro-me de assistir a filmes sobre isso. “Duelo de Titãs” é um exemplo. Eu ficava espantado com aqueles conflitos bestas. Uma das cenas mais impactantes é a que um técnico branco oferece uma banana para um treinador negro.

Eu me recordo de pensar: “Nossa, ainda bem que essas coisas não acontecem mais”. Inocência pura. Os recentes atos racistas que envolveram jogar essa fruta no campo de futebol e chamar jogadores de macacos mostram que o ser humano não evoluiu como deveria.

Duas situações recentes foram a gota d’água para mim. A primeira é ter ouvido de um cidadão a seguinte pérola (prepare o estômago!): “Roubar está no sangue dos negros”. Deu vontade de vomitar e fugir. A segunda é a revolta contra nordestinos diante do resultado da eleição.

Podemos ser a favor ou contra um determinado político. Isso faz parte da democracia. Só que é preciso que a gente se lembre que a diferença entre o remédio e o veneno é a dose. Ouvi, certa vez, que a solução para o Brasil é “matar todos os usuários do Bolsa Família”.

Ser contra um programa do governo é legítimo e várias pessoas apresentam bons argumentos. Outra coisa, no entanto, é abrir a boca e disparar absurdos. Um dia, fui a uma agência da Caixa Econômica Federal por volta de 21 horas. Uma mulher pediu ajuda para sacar o benefício.

Ela mal sabia manusear a máquina. Os filhos dela me olhavam como se eu fosse um extraterrestre. Suponho que nunca haviam saído da conjuntura de pobreza deles. Quando pegou o dinheiro, aquela mãe revelou no olhar a esperança de uma vida melhor.

Quando entendemos o contexto e temos cabeça aberta, surge o caminho para discussões mais civilizadas. São elas que fazem uma nação avançar. Para fechar, veja outra solução “genial” que apresentaram para o Brasil: “Tem é que jogar uma bomba atômica nas favelas do Rio”.

Chega!

Informamos que esse texto é de inteira responsabilidade do autor do post identificado abaixo.