Uma consideração sobre nossa necessidade de racionalizar as ações do outro versus a humanidade em cada um de nós.
 
Muitas vezes não nos conformamos com o fato de não conseguirmos compreender, justificar ou concordar com as motivações que levaram outro ser humano a nos ferir de alguma maneira. Isso dificulta, atrasa e impossibilita nosso processo de perdão e superação. 

Por Que Isso Acontece?


Porque temos uma necessidade muito forte de satisfazer nosso ego racional com explicações e justificativas. No entanto, muitas vezes, a compreensão de uma motivação de outro ser humano está fora da nossa capacidade de entendimento. Pelo menos, naquele momento.

Minha sugestão carinhosa é considerar que ali, do outro lado da suposta ofensa, também está um outro ser humano, com todas as suas complexidades, suas imperfeições, agindo de acordo com sua própria capacidade de percepção, conforme seu nível de consciência. Assim como todos nós. Outro universo.

Da mesma maneira que são inúmeras as possibilidades de conexões mentais e emocionais que minha mente consciente e inconsciente pode fazer e que se tornarão gatilhos de minhas tomadas de atitude, do mesmo jeito ocorre com o outro. Outro ser humano. A meu ver, essa compreensão pode ser suficiente para que possamos começar a considerar o perdão e, quem sabe, alcançar a compaixão.

A necessidade de acharmos obrigatório racionalizar detalhadamente os motivos do outro para poder compreender e então perdoar é egóica: é do nosso ego. E esse nosso ego nem sempre está em harmonia com nossa alma, nosso coração, com nossa essência. Lá no fundo, esse nosso ego fora de sintonia acha que o outro tem que mudar. Que nos deve essa mudança. Achamos, pretensiosamente, que sabemos exatamente como o outro deve se comportar. 

Devo então deixar tudo pra lá e me abdicar de compreender o que levou o outro a me ofender? Não. Pode ser sim, muito importante, até para descobrirmos se foi um comportamento nosso a origem da ofensa e refletirmos se devemos ou não reconsiderar nossas atitudes para nos tornarmos seres humanos melhores. Para compreendermos se foi um mal-entendido ou um ruído de comunicação que possa ser ajustado e esclarecido.

O que quero dizer é que, nem sempre conseguimos, por mais que incessantemente tentemos alcançar a compreensão do que ocorreu na mente infinitamente complexa de outro ser humano. Mal compreendemos nossa própria complexidade. Nossa própria humanidade. 

Temos perfeições e imperfeições que nem mesmo nos damos conta. Assim como outro me ofendeu, eu posso ter ofendido alguém em algum outro momento sem nem ao menos ter tomado consciência.

Quando passamos a lembrar que existe todo esse processo, podemos começar a nos sensibilizar não somente para o perdão, mas, num nível ainda mais consciente e perceptivo, para a compaixão, que pode nos levar à uma poderosa libertação.

Mas, e se minha razão compreende tudo isso, mas meu coração não consegue se alinhar a esse pensamento?

Antes de tudo, é preciso buscar a conexão do ego com a essência. Saber quem você é, por dentro. Muito autoconhecimento. Meditação. Jornada interior. Espiritualidade. Silêncio. E um esforço sincero para que isso tudo aconteça. Fácil? Não, nem um pouco. Às vezes é preciso que nos viremos virar do avesso. Porém, é possível. Somos também muito mais capazes do perdão do que pensamos.

Quando estamos em nosso equilíbrio de ego x essência, vibramos amor. Vibramos compaixão. A compaixão, ainda mais sublime, entende que é possível o não culpar. Ela compreende, já, de antemão, a humanidade em cada um de nós. E, transcendendo a necessidade de culpar, não necessitamos perdoar. 

Quando, sinceramente, aprofundamos o conhecimento de nós mesmos, acolhendo nossas luzes e nossas sombras, mais natural fica acolher e compreender as nuances do outro.

Compreender que, no fundo, somos todos tão diferentes, tão parecidos.



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