“O Profeta nos deu o Alcorão e nos deixou apenas cinco obrigações. A mais importante é a seguinte: só existe um Deus. As outras são: rezar cinco vezes por dia, fazer jejum no mês do Ramadã, fazer caridade com os pobres. A quinta obrigação é uma viagem”.

Essa declaração é de um personagem árabe do livro “O alquimista”, de Paulo Coelho. Trata-se de um mercador. Ele explica melhor a que viagem se refere: “Devemos ir, pelo menos uma vez na vida, à cidade sagrada de Meca”. O comerciante abriu a loja para realizar esse sonho.

Quando questionado sobre o motivo de ainda não ter ido, o muçulmano respondeu: “Porque Meca é o que me mantém vivo. É o que me faz aguentar todos esses dias iguais, esses vasos calados nas prateleiras, o almoço e o jantar naquele restaurante horrível”.

O mercador prossegue: “Tenho medo de realizar meu sonho e depois não ter mais motivo para continuar vivo”. O medo do personagem de Paulo Coelho é relevante. No livro “O homem em busca de um sentido”, o sobrevivente do Holocausto Viktor Frankl aborda a questão.

Ele viveu os horrores da Segunda Guerra e também observou como as outras vítimas de Hitler lidavam com aquela condição desumana dos campos de concentração. O que relata é de uma intensidade sem igual: “Só sobreviveu quem tinha algo de importante a realizar no futuro”.

No livro “Mais tempo, mais dinheiro”, que escreveu com Christian Barbosa, Gustavo Cerbasi relembra a situação que viveu depois que enriqueceu e conquistou a independência financeira. Até então, trabalhava intensamente para obter essa tranquilidade.

Depois que esse objetivo foi alcançado, uma “análise” precisou ser feita. Ele explica: “Corríamos o sério risco de ver nossa vida e carreira caírem em um vazio? Não, pois sentíamos que ainda havia sonhos a serem realizados. Muitos sonhos”.

Cerbasi continua: “Decidimos experimentar criar uma lista de 100 sonhos ou objetivos que gostaríamos de realizar em cinco anos. Parecia fácil. Começamos a escrever a quatro mãos e, por volta do trigésimo objetivo, as ideias saíam com muito sacrifício”.

Três meses depois, no entanto, a lista estava pronta. E continha itens dos mais variados, desde comer um filé na cidade de Itu, em São Paulo, até doar mil brinquedos. A centésima linha se referia a elaborar uma nova relação, com 100 coisas, para os cinco anos seguintes.

Os autores – Cerbasi e Frankl - deixam uma lição bacana para o medo que o mercador árabe de Paulo Coelho demonstrou. Não devemos temer a realização dos nossos sonhos. Só que é preciso ter em mente a importância de um sentido forte para viver.



Informamos que esse texto é de inteira responsabilidade do autor identificado abaixo.