Era um típico final de tarde no Sul de Santa Catarina. Preparava-me para mais uma noite de aula na faculdade. Fui com meu carro em direção ao estacionamento dos professores, na instituição em que lecionava. O segurança me barrou.

“O estacionamento dos alunos é logo ali. Aqui, é só para professores e funcionários”, afirmou. Surpreso, respondi: “Mas eu sou professor”. Com expressão de desdém, o guarda retrucou: “Ah é? Então me mostra a identificação!”.

Irritado, comecei a revirar minha pasta, em busca do crachá. Ao ver minha reação e a forma como mexi nas minhas coisas, o segurança disse: “Tá, tá. Já acreditei. Pode passar”. Porém, fiz questão de encontrar o documento e mostrá-lo.

Alguns poucos anos mais tarde, ao ler o livro “O óbvio que ignoramos”, pude entender melhor o que ocorreu naquele dia. O autor Jacob Pétry explica que “convicção é a certeza obtida por fatos ou razões que não deixam dúvida e nem dão lugar a objeção”.

O escritor complementa: “Essa opinião firme forma um modelo, um padrão, uma persuasão íntima que passa a fazer parte dos princípios que conduzem nossas ações. Eles são o piloto automático que dirige nossas vidas”.

O guarda, portanto, partiu do princípio de que alguém tão jovem não poderia ser professor de faculdade. Então, exigiu uma prova para que eu pudesse estacionar no local dedicado aos educadores. Hoje, sei que ele não fez por mal.

Penso que precisamos fazer um monitoramento para perceber de que forma essas convicções interferem nas nossas vidas. Quando eliminamos preconceitos, nos abrimos para reconhecer, em nós e nos outros, potenciais talentos.

Para explicar o poder desse processo, Pétry conta a história de Joshua Bell: “É uma das maiores celebridades da música clássica contemporânea. Muitos críticos o consideram o melhor violinista do mundo”.

O autor continua: “É uma das poucas pessoas que possuem um violino Stradivarius. Ele possui 30 títulos gravados e acumula muitos prêmios”. O músico aceitou o desafio de tocar numa estação de metrô norte-americana. A ideia era ver se seria reconhecido.

O resultado foi esse: “Cerca de duas mil pessoas passaram por ele. Pouquíssimas lhe deram atenção e quase ninguém parou para ouvi-lo. Ali estava um dos maiores violinistas do mundo, tocando com um violino que vale US$ 3,5 milhões”.


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