Há algum tempo, li uma matéria muito interessante de uma renomada revista internacional de administração. O título da matéria poderia ser traduzido da seguinte forma: como dizer "isso tá uma porcaria" em diferentes culturas.

Na realidade, é um artigo muito interessante que trata de como as pessoas estão acostumadas a dar e receber feedback negativo em diferentes países.

Por exemplo, os alemães e holandeses preferem falar da forma mais direta e sincera possível, enquanto os ingleses são sutis e usam muitos eufemismos. Já os americanos costumam usar muito o feedback misto, ou seja, começar falando das coisas boas, para depois falar das ruins.

Mas, independente da forma, nestas culturas existe o hábito de dar feedback no trabalho. É algo normal, esperado. Nesse sentido, o que você diria do Brasil?

Na minha trajetória profissional como coach e consultor, o que observei foi que, aqui, dar feedback negativo chega a ser quase um crime. Nos esforçamos demais para poupar os sentimentos dos nossos colegas – seja por consideração, ou (mais comumente) por medo de gerar rancor e retaliação.

Ouvindo, ano após ano, diferentes empresas com basicamente as mesmas reclamações, ficou muito claro para mim o dano gerado por essa mentalidade: pactos silenciosos de mediocridade, líderes sobrecarregados e colaboradores acomodados ou estagnados.

Entretanto, quando leio sobre empresários de grande sucesso do Brasil, percebo que, ironicamente, a grande maioria tem o costume de dar feedback sem dó.

Note que isso não significa sair por aí dando patada (apesar de que alguns tem a má fama de fazer isso), mas sim dialogar com uma pessoa de forma transparente a respeito dos resultados que ela vem gerando e analisar o impacto disso. Um feedback só é realmente efetivo quando gera ações concretas, objetivando uma mudança ou aprimoramento.

Penso que dar feedback – tanto negativo, quanto positivo – talvez seja a principal atribuição diária de um bom líder, mas não basta o líder; para que uma empresa seja realmente capaz de gerar soluções, a equipe como um todo deve ter uma cultura de abertura a feedbacks.

Existem várias técnicas para dar feedback negativo sem ofender – afinal, ofender trabalha contra o propósito de um bom feedback. O fato é que precisamos aprender a nos comunicar melhor – de forma mais consciente e com mais inteligência emocional. Usado de forma correta, o feedback pode inclusive ser uma poderosa ferramenta de motivação.

Se observarmos os nossos problemas no trabalho, veremos que a solução quase sempre passa por algum tipo de feedback. Levando isso para um âmbito nacional, acredito que a solução de grande parte dos problemas do Brasil passa pela criação de uma cultura mais aberta à troca de feedbacks e vejo o meio empresarial como um berço propício para esta mudança.



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