Na maior parte de nossas conversas trabalhamos para identificar falhas e vícios em nossa estrutura de pensamento, identificando os exatos ajustes a serem feitos. Normalmente, por meio deste processo, trazemos respostas. Desta vez, faremos de forma diferente, no qual trarei uma série de perguntas igualmente esclarecedoras.

Antes, preciso trazer uma citação que considero ser de extremo valor. 

“A vida não se trata apenas de ter sempre cartas boas, mas de ocasionalmente jogar bem com cartas ruins.”

De maneira autoexplicativa, o que se tem aqui é que nem sempre estaremos naquelas condições ideais com que sempre sonhamos. Na verdade, a habilidade que se tem em jogar com cartas não tão boas é muito mais importante que uma mão abarrotada de cartas invejáveis. 

Afinal, para quem sequer sabe jogar, do que valem todas as melhores cartas do baralho? Definitivamente, não muita coisa. Por outro lado, desistir ou se deixar abater só porque recebeu uma leva de cartas ruins é, sem dúvida, dentre todas, a pior escolha possível.

Portanto, temos que aprender a jogar bem com o que temos. Trabalhar a nossa realidade atual da melhor forma possível, de forma que consigamos extrair o melhor daquilo que nos está disponível.

Agora utilizaremos esse princípio para responder uma dúvida frequente de todos aqueles que começam a estudar: quais atividades devo manter e quais devo cortar? 

Tem de tudo: fazer academia, tomar cerveja com as amigas, investir em um relacionamento amoroso, se alimentar seis ou três vezes por dia, dormir por cinco ou oito horas, assistir um programa de televisão ou ganhar tendinite no dedão de tanto usar as redes sociais. O que fica e o que sai?

Essa é uma pergunta recorrente, e somente quem questiona que poderá dar a resposta. Parece uma charada, mas não é. De forma bem técnica, podemos dividir essas atividades colaterais em três grupos principais:

1 – Auxilia: atividades que auxiliam diretamente nos estudos;

2 – Indiferente: atividades que não possuem relação direta com os estudos;

3 – Atrapalha: atividades que perturbam diretamente os estudos.

Assim, precisamos tentar classificar cada atividade em algum desses grupos. Sei que algumas coisas podem ficar ali, bem no meio do caminho, mas, no fundo, você saberá bem onde colocá-las. Em seguida, precisaremos fazer algumas perguntas que trarão nossas respostas:

- Se essa atividade auxilia, ela é fazível? Ou seja, devemos analisar se é possível fazer essa atividade com os recursos disponíveis (tempo, dinheiro e esforço humano) de forma que possamos colher benefícios significativos.

- Se essa atividade é indiferente, quais são suas consequências indiretas? Elas auxiliam ou atrapalham? Toda atividade em nossas vidas terá certo impacto nas demais, ainda que mínimo e indireto. Sendo assim, podemos imaginar se os impactos são majoritariamente positivos ou negativos. É claro que trabalharemos com estimativas para poder subsidiar uma decisão. Melhor que isso, só tentando e conferindo na prática.

- Se essa atividade atrapalha, ela é evitável ou pode ser amenizada? Oras, aqui, não precisamos de maiores divagações, certo? Existe uma infinidade de coisas que se apresentam diariamente como entraves às nossas jornadas, sejam eles maiores ou menores. Sempre que possível, devemos verificar se podemos evitar ou amenizar os efeitos indesejáveis e, então, pensar no que pode ser feito para fazê-lo.

Daí chega aquele aluno esperto e diz: “Poxa, será que não dá para fazer um fluxograma simplificado para facilitar esse processo de decisão?” 

Melhor não, porque esse processo não deve funcionar de forma tão mecanizada. Afinal, estamos falando de coisas que nem sempre são tão fáceis de serem classificadas, e precisamos colocar o pensamento para funcionar durante esse processo de decisão.

Pode parecer estranho usar uma de minhas citações preferidas em um texto técnico e, aparentemente, vazio. Parece haver algum conflito, mas logo vejo que cai como uma luva. Fato é que nenhum de nós estará sempre diante de uma situação ideal. 

Não é porque começamos a estudar para alcançar um projeto de vida que todos os empecilhos irão fazer reverência e se curvar para abrir passagem aos nossos pretextos. Muito pelo contrário! Por diversas vezes, seremos colocados à prova, e nos será exigida muita habilidade para trabalhar com os intemperismos de nossa vivência. E assim será para todos.

Talvez, uma das coisas mais interessantes em nossa jornada seja o aprendizado colateral que conquistamos. Como extrair o máximo do pouco que temos. Como seguir adiante ainda que encontremos obstáculos. Como sacudir a poeira, botar um sorriso na cara, e dar o próximo passo para descobrir o que é que existe logo adiante.

Como a usual citação ficou lá para cima, faço aqui a minha própria: as cartas podem ser outras, mas o jogo é sempre o mesmo. 

Preocupe-se mais em se tornar um bom jogador, e menos em esperar por cartas ideais. Você definitivamente não precisa delas para vencer.

A vitória pertence ao jogador, e não às cartas.



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