Na minha coluna de título “Rapunzel está com câncer”, escrevi o seguinte: “Não adianta se deslumbrar e acreditar que as realizações cairão no nosso colo como num passe de mágica”. Decidi relembrar esse trecho para dizer que ser muito “literal” também pode ser problema.

Não podemos perder aquela lente de contato que faz com que a gente veja o mundo de maneira mais positiva. Se passarmos a ver a vida apenas de maneira nua e crua, a tendência é que nós percamos de vez a motivação. E isso fica evidente em nossas ações.

É preciso manter o sonho vivo. Na Libertadores de 2010, o meio-campista Giuliano era reserva do Internacional. Entrava no decorrer das partidas e as decidia. O resultado? Além de ajudar o time a ser campeão, ele foi eleito o melhor jogador do torneio.

Isso mesmo: um atleta que não era titular foi escolhido o principal jogador daquele campeonato. Foi um feito incrível. Tão fantástico quanto o do ator Wagner Moura, que mudou o roteiro de Tropa de Elite com a atuação espetacular que teve.

O Capitão Nascimento não era o protagonista do longa. No entanto, na primeira montagem do filme, os autores perceberam que ele só ficava bom depois que esse personagem começava a aparecer com mais frequência. Então, decidiram alterar a sequência das cenas e a narração.

O resto ficou para a história. Giuliano poderia ter se revoltado por ser reserva. Moura poderia ter se lamentado por não ser dono do papel principal. Afinal, é o que vários profissionais fazem. Perdem a lente de contato e reclamam do que o destino reservou.

No início deste texto, citei “Rapunzel está com câncer” para manter claro o ensinamento de que se deslumbrar não é bacana. Agora, adotar o contrário como estilo de vida é complicado porque mostra que a pessoa desistiu. A tendência é que o futuro fique nebuloso.

O pior de desistir é que o profissional deixa de acreditar que pode mudar a situação em que se encontra por meio de ações. Ele não age por pensar que o mundo é uma m... e, quando a coisa dá errado, ainda tem a cara de pau de dizer que sempre soube que o destino seria esse.

Giuliano e Moura mostraram que a grande lacuna é o trabalho consistente. O brasileiro tem dificuldade, por exemplo, de pegar um livro e ler até o final. Primeiro, olha o tamanho da letra. Depois, vê se tem figura. Por fim, lê 10 páginas e larga, por puro desinteresse.

Vamos manter o sonho vivo, mesmo que não sejamos titulares ou protagonistas. Não precisamos da aprovação de ninguém para fazer um trabalho consistente, que tenha início, meio e fim. Seu maior compromisso é com você. O universo se encarrega do resto.



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