Não se pode negar que na maioria das vezes, ao aplicar uma ferramenta na busca da “visão” do coachee, um coach vai refletir, mesmo que fora da sessão, na sua própria “visão”. Isso é perfeitamente justificável, mesmo porque, se você não sabe para aonde está indo, você jamais chegará a lugar algum. Assim, independentemente da sua idade, do seu trabalho e dos que o rodeiam, pare e perceba o propósito para a SUA vida.

Essa tarefa se tornaria bem fácil se fosse baseada em uma definição palpável, e até certo ponto objetiva, daquilo que realmente significa ter uma visão. Mas, definições e conceitos reduzem os fenômenos às interpretações de autores, que trazem consigo diversas posições ontológicas e até epistemológicas. E você não quer deixar o seu propósito de vida sob a tutela dos outros.

Elaborações de certas questões tentam facilitar a concepção de uma sentença que possa definir a sua visão.

O que eu quero criar na minha vida através de mim, que está além de mim?

O que eu quero fazer da minha vida?

Ouff! Essas são perguntas carregadas de pensamentos que apontam algumas direções, mas podem se perder nas mais remotas reflexões advindas delas, principalmente se você estiver sozinho, sem alguém para apoiá-lo.

Além de tudo, as visões necessitam ser revistas regularmente, não apenas uma vez em sua vida, mas em vários momentos: quando as situações mudam; quando as oportunidades surgem ou quando descobrimos novos interesses com novas necessidades a serem atendidas. Qual o pai ou mãe não mudaram suas visões ao fitar os olhos de um filho pela primeira vez? Qual o namorado que não mudou sua visão da vida ao ser realmente atingido pelo cupido?

Diante disso, fica a indagação: qual a melhor metodologia para desvendar a própria visão?

Não existe uma abordagem única, mas estudiosos como a Dra. Edit Luc, da Universidade de Montreal, Canadá e Jinny S. Ditzler, fundadora da indústria de personal coaching e executive coaching no Reino Unido desde 1981, assim como outros, se dedicam a esse estudo, permitindo que sejam apresentadas aqui algumas sugestões que facilitam a percepção do propósito na vida.

1. Inicialmente, desmistifique “visão” - As pessoas tendem a pensar nela como um dos maiores mistérios da vida. Mas, a boa notícia é que você já sabe a resposta de qual seja a sua visão. Você não precisa inventar algo novo ou se sentir culpado porque está sem propósito até agora. Basta dar-se um pouco de tempo para pensar e tudo se revelará.

2. Reflita - A sua visão de vida, diferentemente de suas metas, permanece em um percurso que nunca termina. Ela é o contexto para tudo o que você faz e para as metas que você define para si mesmo. Assim, dar-se algum tempo de silêncio, para sondar a sua sabedoria interior, com perguntas como estas, pode ser bem frutífero:

• Quando foi que eu me senti muito bem sobre o que eu estava fazendo? E me senti muito satisfeito depois de realizar?

• O que eu estava fazendo naqueles momentos?

• Qual foi o meu propósito subjacente básico para aquelas atividades?

• Que diferença eu quero fazer na minha vida e na vida de outros?

• Qual é o propósito da minha vida?

Depois de respondê-las, anote tudo, sem edição - incluindo as reflexões sobre a última pergunta. Confie no processo e tenha fé ao ouvir a sua sabedoria interior.

3. Discuta – Veja com quem pode falar sobre os seus interesses ou aspirações. Que pessoa, amigo ou mentor, coach ou colega poderiam ajudar a concatenar as ideias do seu pensamento? Procure alguém que possa lhe reservar tempo para esse intuito; e tenha sempre em mente que essa discussão deve ocorrer em intervalos diferentes, e não necessariamente com as mesmas pessoas.

4. Inspire-se em alguém – todos temos pessoas que representam modelos de vida, de trabalho. Dedique-se a entender as trajetórias deles, quais desafios superaram, quais as dificuldades que passaram, quais os recursos eles tinham, etc. Esse entendimento poderá esclarecer a sua visão. Não foi sem motivos que a sua mente os escolheu como modelos.

5. Permita-se testar o seu propósito – para dirimir as dúvidas, saiba que é possível experimentar por um dia, uma semana ou mesmo um mês algumas atividades que se coadunam com a visão que já começa a se desvendar. Isso pode preveni-lo de alguma ilusão, mas pode também sedimentar a certeza da sua visão.

6. Relate a investigação das sugestões acima - É hora de escrever sua visão. A concretização das descobertas em um relatório escrito permite ainda mais reflexões. Entretanto, use sempre o Presente do Indicativo, abandone o tempo Futuro, que nunca chega. Sugere-se também o uso de outros meios além da escrita. Algumas formas visuais, como o mapa mental, apresentam diagramas finais que facilitam a identificação palpável da visão descortinada.

Essas são algumas sugestões, mas lembre-se: elas não representam um teste para saber se você foi uma boa pessoa ou não em sua vida; também não buscam encontrar um propósito adequado para você decidir o que fazer daqui para frente. A visão já existe, é sua, e basta somente ser desvendada para que seja apropriada de fato por você. Ela terá uma durabilidade dinâmica, pois eventos importantes podem modificá-la, mas jamais extrair-lhe a essência.

Sim! Não é tão simples assim. Mas é a sua vida, e ela também não será simples de ser entendida sem uma visão explicitada. Ao se apropriar dela, você percebe mais facilmente o caminho da felicidade, pois experimenta o raro prazer de conhecer o melhor caminho para desenvolver seus dons e talentos: realmente os utilizando.


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