Quando você ouve a palavra 'meritocracia', qual a primeira coisa que vem à mente? Muitas pessoas gostam intuitivamente dessa palavra, porque ela está associada a uma ideia de justiça e neutralidade. Mas, tendo ouvido relatos de vários clientes e estudado a situação de diversas empresas, eu me questiono até que ponto faz sentido essa associação.

Idealmente, em um ambiente meritocrático, as pessoas que tem mérito (merecedoras) são recompensadas e atingem posições de poder, entretanto, quando examinamos situações reais, nos deparamos com quadros bem mais complexos.

Afinal, quem julga o merecimento? Quais os critérios objetivos e subjetivos para avaliar o mérito? Qual o peso relativo de cada um? Quem escolheu esses critérios? As pessoas concordam com eles? As formas de avaliação são justas e neutras? Como avaliar critérios subjetivos imensuráveis? Qual seria o tamanho ideal da recompensa?

Talvez você já tenha visto um colega que você considerava menos competente ser promovido para um cargo que você almejava. Em horas assim, os sentimentos mais comuns são raiva, frustração e injustiça – e quando alguém está dominado por essas emoções, o impulso natural é de questionar o mérito do concorrente e/ou a justiça do sistema – o que não é necessariamente uma coisa ruim.

Ao meu ver, qualquer sistema que beneficia algumas pessoas em detrimento de outras é intrinsecamente polarizador, e a situação se torna ainda pior quando o sistema não se atualiza com o tempo, tornando-se anacrônico, turvo, engessado. Nos piores casos, aqueles que tem poder passam a se utilizar da burocracia para manter o status quo, desvirtuando o sistema do seu propósito original.

Entretanto, é fato que existem exemplos reais de sistemas meritocráticos efetivos, que conseguem assegurar um grau relativamente elevado de justiça. Infelizmente não tenho material de pesquisa suficiente para fazer uma análise numérica, mas acredito que esses sistemas compartilham uma característica em comum: sabem que não são perfeitos e buscam aprimorar-se constantemente.

O elemento diferenciador que identifico nestes sistemas é a existência de mecanismos para colher e processar o feedback dos participantes. São organizações onde as pessoas são incentivadas a serem críticas (de forma produtiva) e manifestar a sua opinião. Essas trocas não só ajudam a aprimorar o sistema, mas também criam oportunidades para que as pessoas entendam melhor os critérios de avaliação e não se sintam necessariamente injustiçadas por decisões com as quais não concordam pessoalmente.

Em síntese, as três características que considero centrais em um sistema meritocrático efetivo são:

- transparência dos critérios e das avaliações;
- questionamento crítico por parte de todos os envolvidos;
- processo contínuo de colher feedbacks e aprimorar o sistema.



Informamos que esse texto é de inteira responsabilidade do autor identificado abaixo.