“ Quando a situação for boa, desfrute-a. Quando a situação for ruim, transforme-a. Quanto a situação não puder ser transformada, transforme-se. ” Viktor Frankl

A similaridade entre a Psicoterapia e o Coaching pode ser muito mais do que imaginamos, ou mesmo, já tenhamos pensado. A começar pelo processo de transformação que pode ser a parte mais pulsante e emocionante para quem vivencia ou já tenha vivenciado uma destas técnicas. 

Transformação esta que pode ser de situações, contextos, caminhos e decisões – e que tem como principal interessado e protagonista, o ser humano – que estará experimentando e vivenciando um outro processo.

O objetivo central deste artigo é identificar e discutir sobre pontos de convergências entre a Psicoterapia e o Coaching. E aqui, posso chamar um ou outro de técnica, abordagem ou processo. O nome, a rigor neste momento, pouco tem importância, mas sim o conteúdo e a essência que cada um pode e deve transmitir para o ser humano.

Reconheço que, ao mostrar estas convergências, de certa forma, entro um pouco no caminho inverso, visto que a teoria e/ou prática tem sido de mostrar (e em algumas situações ressaltar) estas diferenças. Por outro lado, sinto instigado e desafiado em transpor esta eventual dificuldade, até pela vivência que tenho, na condição de Psicólogo (ainda que com toda minha atuação profissional fincada em Recursos Humanos) e como Coach Profissional.

Antes de mostrar diferenças e antagonismos entre estas duas abordagens, pretendo sobretudo, ressaltar pontos comuns e complementares, as semelhanças que existem entre ambas.

Mas de imediato, acho importante contextualizar tais abordagens: a Psicoterapia como uma prática de atuação profissional, notadamente de expertise dos Psicólogos, mas que em alguma situação, pode também ser usufruída por Psicanalistas e Psicopedagogos. E, por outro lado, o Processo de Coaching, como uma Metodologia de aplicação dos profissionais da área, que são os Coaches.
Transforme sonhos em realidade

Mas, como disse na parte inicial, julgamos importante uma conceituação destas abordagens, para melhor compreensão desta complementariedade que demostrarei. Comecemos, então, pela relação entre Terapia X Psicoterapia.

Terapia é o nome dado a um conjunto de práticas psíquicas, corporais e espirituais que objetivam a harmonia da saúde do cliente. É uma ferramenta importante para erradicação ou diminuição do sofrimento e da má interpretação dos diversos eventos que ocorrem nas diferentes esferas da vida: pessoal, emocional, profissional e nos relacionamentos.

Existem, portanto, diversos tipos de terapia, como: acupuntura (aplicação de agulhas em pontos definidos do corpo), cromoterapia (tratamento médico pela ação das cores), fitoterapia (baseada no uso medicinal de plantas), hipnoterapia (uso terapêutico da hipnose ou o tratamento de uma doença com o uso de técnicas hipnóticas), terapia ocupacional (emprega ocupações selecionadas com fins terapêuticos ou de reabilitação), entre outras.

Já a Psicoterapia nos remete a uma relação de tratamento entre um psicólogo e o paciente. A psicoterapia refere-se às intervenções psicológicas que buscam melhorar os padrões de funcionamento mental do paciente e as suas relações interpessoais. Podemos também caracterizar este processo como uma ferramenta de autoconhecimento e transformação, e conforme Jung, composto de quatro etapas: confissão, esclarecimento, educação e transformação. 

Resumindo, a Psicoterapia se classifica num termo mais abrangente, englobando todas as linhas teórico-científicas da Psicologia Moderna.

Uma vez caracterizada de forma clara esta definição sobre Psicoterapia, podemos agora abordar um pouco mais sobre o Processo de Coaching. E nos permita então começar pelas partes envolvidas: o Coach, que é o profissional que usa a metodologia / o processo, e o Coachee, que é o cliente, a pessoa que demanda o serviço. E, por fim, o Coaching: a metodologia, o processo, a relação estabelecida entre Coach X Coachee.

Esta metodologia ou processo, tem regras e objetivos muito claros. E o principal objeto é a aplicação prática de obtenção e potencialização de resultados, realizada no presente com foco no futuro, mas que pode ou não utilizar recursos do passado. Esse processo não tem como foco a solução de problemas, mas que sobretudo apresente ferramentas para que o Coachee obtenha algo desejado.

Em outra abordagem mais simples e prática, Coaching é o processo de fazer com que as pessoas se transformem em quem elas precisam ser, para que elas conquistem o que precisam ter.

Tenho, porém, uma crença clara de que as contribuições do Coaching e da Psicoterapia podem ser diversas, complementares e compartilhadas. E ambos têm fins e propósitos nobres, sejam para profissionais, para a sociedade e para o conhecimento de modo geral. E principalmente para o Ser Humano.

Percebam que, apenas com as definições acima, várias semelhanças podem ser caracterizadas. Agora, imagine na relação existente entre os personagens envolvidos (Cliente ou Coachee X Psicoterapeuta ou Coach), e no espaço altamente frutífero onde as relações são desenvolvidas, como estas similaridades podem ainda mais serem acentuadas. 

É o que demonstrarei adiante, com mais robustez conceitual, e sobretudo, prática dez atributos comuns e existentes tanto na Psicoterapia, como no Processo de Coaching:

1 - Caráter de Confidencialidade: ambas técnicas preservam o espaço da confidencialidade, onde o conteúdo extraído nas sessões interessa essencialmente às partes ali envolvidas. E principalmente tem um propósito de garantir o respeito às informações que são compartilhadas e trabalhadas, e considerando estas como relevantes para o processo de transformação;

2 - Atitudes Éticas e Responsáveis: Tanto os Coaches, bem como os Psicoterapeutas são regidos por Códigos de Éticas, respectivos às suas atuações profissionais, e que dão contorno bastante claro para estes relacionamentos. Este campo ético preserva todo relacionamento entre cliente (coachee ou paciente) X profissional (psicoterapeuta ou coach);

3 - Processo de Sintonia (rapport): Considerando rapport como a capacidade de entrar no mundo de alguém (no caso específico coachee ou paciente), de fazer sentir que você o entende e que vocês têm um forte laço em comum. Ou na definição de Anthony Robbins: “ É a capacidade de ir totalmente do seu mapa do mundo para o mapa do mundo dele. É a essência da comunicação bem-sucedida. ” Este processo de rapport, considerando as definições acima, torna-se uma condição essencial para florescer conteúdos e elementos que levem à uma compreensão clara da situação real / atual, mas principalmente, às descobertas rumo ao crescimento e mudanças;

4 - Escuta Atenta: Ouvir é mais do que escutar, é realmente compreender, e nos colocar em contato com o discurso e os sentimentos. O ato de escutar atentamente é uma condição importante e favorecedora para que ocorra as livres e genuínas manifestações da pessoa envolvida, quer seja numa sessão de coaching, quer seja em sessão de psicoterapia. O que varia, naturalmente, é a habilidade de escuta por parte do profissional, e as condições que são criadas para tal. Uma citação de Rubem Alves, ilustra estas citações: “ O que a pessoa mais deseja é alguém que a escute de maneira calma e tranquila. Em silêncio. Sem dar conselhos. Sem que digam: se eu fosse você. ”; 

5 - Caráter Terapêutico: sem entrar na imersão científica do processo terapêutico, compreende-se uma técnica que demonstre uma ação terapêutica à medida que proporciona bem-estar e melhorias em relação à uma determinada situação de queixa ou de incômodo. Na Psicoterapia, esta ação terapêutica se materializa à medida que a técnica assume um contexto voltado para a construção de soluções que atendam às necessidades do sujeito. Ou seja, é importante que as soluções busquem contemplar os sentidos subjetivos, os significados, as emoções, as trocas sociais, o modo de expressão que são particulares a esta pessoa (e não de uma teoria a priori) e se organizam em torno de suas necessidades.

Por outro lado, caracterizando de forma clara este contorno terapêutico, poderia citar alguns momentos vivenciados, mas sintetizo em três: quando proporciona bem-estar e qualidade de vida no Coachee ao se desenvolver pessoal e profissionalmente. Além disto, a própria troca de conhecimentos e experiências entre Coach x Coachee, em que ambos se beneficiam e crescem com esta troca. E por fim, quando crenças bloqueadoras ou limitantes são identificadas, e ato contínuo, ações são definidas para facilitar a conquista de propósitos de vida;

6 - Autoconhecimento: conceituando este termo, com origem na Grécia Antiga, é a busca dos homens em seu próprio interior, por respostas e entendimentos para várias questões sobre si mesmo e sobre a vida. Na Psicoterapia você aprende a conhecer-se muito bem, o que faz com que perceba melhor os seus sentimentos e emoções, aprendendo desta forma a lidar muito melhor com eles (medo, culpa, raiva, tristeza, carência, etc.). No processo de Coaching, o autoconhecimento te leva a refletir sobre pontos de inércia, crenças limitantes, mas principalmente, com pontos que fortalecem, e oportunidades que estão ao seu alcance;

7 - Autoestima: consideramos a autoestima com uma qualidade de quem se valoriza, quem demonstra confiança em seus atos e julgamentos. Para Coaching, a autoestima ajuda a pessoa a eliminar crenças negativas em relação a si mesma, e a se reconhecer como alguém especial, importante e capaz. Não difere, pois, da Psicoterapia, onde o paciente dotado deste atributo, aprende a aceitar e a lidar com o seu lado bom e com o seu lado mau. Aprende a gostar de estar na sua própria companhia e a estar bem consigo próprio (a), mesmo estando sozinho. Aprende a olhar para os seus problemas de forma objetiva e clara e aprende a tomar as decisões certas para o bem da sua vida. 

Autoestima nos reveste de uma capacidade avançar, de superar, como nos lembrou há tempos atrás o Maslow: “ Podemos recuar em direção à segurança ou avançar em direção ao crescimento, a opção pelo crescimento tem que ser feita repetidas vezes. E o medo tem que ser superado a cada momento. ”;

8 - Protagonismo: não imaginamos qualquer processo sem a participação efetiva dos personagens diretos – que são o Coachee e o Paciente. Resguardadas as atuações do Coach e do Psicoterapeuta, o êxito / sucesso do processo tem relação direta com o engajamento destes personagens citados, e a partir deles, as descobertas que venham à superfície, e principalmente, as ações identificadas para fazer frente a estas descobertas - sejam para modificar, para consolidar, para transformar – atitudes e comportamentos. O protagonismo é a materialização clara do caminho que se constrói, das alternativas que são buscadas pelo agente principal – Coachee ou Paciente. 

Afinal, com simplicidade a poetisa Cora Coralina, nos ensina: “ O que vale na vida não é o ponto de partida, e sim, a Caminhada. Caminhando e semeando, no fim terás o que colher. ”;

9 - Processo de Transformação: Em ambas situações, o que se espera – para o Coachee ou Paciente – é um momento de renovação, de melhorias, uma transformação que tem um destinatário: quem tem o prazer de vivenciar a Psicoterapia ou o Coaching. Para o processo de Coaching, a Transformação é o caminho. E o caminho é feito de escolhas, que expandam o horizonte de possibilidades para os envolvidos. E, sobretudo, perceber que somos seres incompletos, onde a mudança é um fato, e recorro aqui a Guimarães Rosa: “ Mire veja, o mais importante e bonito do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. ”;

10 - Busca da Felicidade: Quem, ao final de contas, não imagina ou que não queira ser Feliz. Aqui é uma condição inerente para as duas abordagens: Psicoterapia e Coaching. A felicidade pode ser um simples Estado de espírito, ou um Estado de realização das pessoas. A Psicoterapia nos traz uma definição interessante: “ Avaliação que o sujeito faz de sua própria vida, e que inclui um predomínio das emoções positivas em detrimento das negativas. ”.f
Simples assim. Ou também: capacidade de solucionar, contornar ou suportar, as adversidades.

Fato é que, ambos, Coachee e Paciente, buscam uma vida com propósito, com significado, satisfação e prazer. Que nada mais é do que a busca pura e simples da felicidade. A felicidade está em pequenos gestos, na leveza da vida, na generosidade sem explicação. Este é o resultado final do processo de Psicoterapia, do processo de Coaching.

“ Ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade. ” Carlos Drummond de Andrade

Portanto, meus caros, vimos aqui dez pontos que aproximam, e muito, Coaching de Psicoterapia. E muito mais que aproximar, pontos que se somam. Ou, em algumas situações, que se multiplicam. E nesta equação, todos ganhamos:

As duas Técnicas – que tem como foco esta felicidade do ser humano;

Os profissionais (Coaches e Psicoterapeutas), que podem interagir e compartilhar conhecimentos. E, sobretudo, aprender a usar em prol deste ser humano;

Os clientes (Coachees e Pacientes), que usufruem desta amplidão de atributos que são vivenciados no espaço fértil e criativo, proporcionado no relacionamento com o seu Coach ou Psicoterapeuta.



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