I. Justificativa

Com a resolução nº 75 de 12 de maio de 2009 do Conselho Nacional de Justiça, que dispõe sobre os concursos públicos para ingresso na carreira da magistratura em todos os ramos do Poder Judiciário Nacional, nasceu a necessidade de conferir noções gerais sobre direito e formação humanística, na qual devem fazer parte do conteúdo programático, sociologia do direito, psicologia judiciária, filosofia do direito. Juíza de Direito do Estado da Bahia desde 1999, essas noções não foram exigidas quando do meu ingresso, mediante concurso público, assim também do curso de formação inicial e de outros tantos realizados ao longo dos anos. Entretanto, tal circunstância não foi um impedimento à percepção da necessidade de desenvolver competências e habilidades para prestar um serviço público qualificado, que passaria pelo desenvolvimento do ser humano em sua individualidade e identidade e enquanto integrante de uma equipe, apto a gerenciar e liderar pessoas, gerir a unidade judiciária e administrar, com criatividade, as carências comuns em nosso Estado.

Tal aspecto reforça a ideia da necessidade de capacitar o magistrado e servidores, de maneira contínua na sua missão de melhor servir. Então após participar do PROGRAMA INTEGRAR, idealizado pelo CNJ, como juíza multiplicadora e colaboradora do eixo de pessoas, tornei concreta, a intuição de como é importante e vital ter um ambiente física e emocionalmente saudável, que o comportamento e o sentimento diante das adversidades diárias devem ser ressignificados e, como consequência natural, cresceu a certeza sobre a necessidade de dirigir um grupo de pessoas com foco na gestão estratégica e no resultado, trabalhar a motivação, identificar a nossa missão pessoal e alinhá-la à missão da instituição, alcançando um propósito maior, zelando, também, por nossa saúde e a de nossos colaboradores, cultivando e renovando a satisfação e o prazer de cumprir seu papel neste processo de agente responsável por transformação de realidade e recuperar a confiança, ainda que pessoal na figura do Juiz[1].

Associado a essa certeza da importância desses conhecimentos, transformando-os em habilidades e colocados em prática, surgiu a necessidade de modelar essa forma de gerir e de se comunicar com seus agentes internos e externos, desenvolvendo uma nova maneira de viver o papel de juiz gestor e transformador de uma realidade atual, moderna e complexa.

II. Da Teoria À Prática

Essa prática já vem sendo implementada por esta magistrada desde 2010, oportunidade em que associou as ferramentas da PNL à gestão de pessoas conforme registrado no artigo “A Gestão Estratégica aplicada à vara cível de Cícero Dantas-Ba” apresentado no VIII Colóquio Internacional “Educação e Contemporaneidade” na Universidade Federal de Sergipe e no EDUCON realizado pela Faculdade Fama em Aracaju. E ainda, tais ferramentas foram utilizadas na prática quando da assunção da Vara dos Sistemas dos Juizados – Federação – Consumidor que culminou com o artigo “o gerenciamento da rotina do trabalho e a gestão de pessoas aplicada à 36ª Vara dos Sistemas dos Juizados”, esse último aprovado para apresentação no III Seminário de Pesquisa da Faculdade Amadeus em Sergipe.

2.1. Projeto Piloto Na Turma Recursal

Ao assumir a composição da 5ª Turma Recursal de Salvador, esta magistrada percebeu que a estrutura de um órgão colegiado demandaria, ainda mais a aplicação de ferramentas de gestão de pessoas, Programação Neurolinguística e Coaching para desenvolver as competências específicas e comportamentais com foco em obter resultados satisfatórios de cumprimento das metas do Conselho Nacional de Justiça, assim também, a melhoria do clima organizacional e a renovação dos laços com a felicidade de prestar um serviço tão relevante à comunidade em que vivemos.

Neste ensejo, o presente projeto piloto propõe-se a desenvolver equipes motivadas e eficientes que dominem, o fluxograma das rotinas, tais como registro e autuação de Recurso Inominado, prática de atos ordinatórios, facilitação da comunicação entre secretaria e gabinetes e melhoria do clima organizacional.

4.1. Breves palavras sobre o Coaching[i]

Coaching é um processo utilizado por pessoas físicas e jurídicas para alavancar a potencialidade dos recursos internos, para que o Coachee adote o processo como etapa de construção de mudanças, promova os movimentos no sentido de construir uma nova realidade. É um processo de transformação, ainda também de libertação de crenças limitantes e potencialização das impulsionadoras, para que o Coachee[2] identifique seus valores e encontre a sua função social, sua missão no mundo.

No caso da aplicação das ferramentas do Coaching no Poder Judiciário, um dos primeiros objetivos traçados foi a identificação dos valores e o alinhamento destes aos objetivos, missão, valores do Poder Judiciário enquanto instituição cumpridora da entrega da função jurisdicional e pacificação dos conflitos aos valores individuais dos magistrados e servidores que compõe a estrutura organizacional.

A aplicação das ferramentas do Coaching coletivo e da PNL no 1º workshop realizado para servidores e Juízes dos Sistemas dos Juizados da capital, em Salvador, revelou o quanto desenvolver competências de comunicação, autocompositivas, a identificação da missão, uma estrutura do diálogo em Coaching, o Rapport, a escuta ativa, a definição de urgência e importância precisam ser vivenciadas e produziram uma mudança imediata no clima organizacional entre os servidores.

Por fim, outro aspecto importante a ser registrado foi a aplicação de sessões com 05 servidores voluntários que melhoram seu desempenho e conseguiram entrar no processo de conhecimento, capaz de simplesmente, conhecerem a razão da sua existência, como pessoas e como servidores.

Identificar, em sessões individuais, seus pontos fortes e ameaças através do SWOT, definir seus objetivos com o SMART, reconhecer percentuais numéricos em suas rodas da vida, acumulou um ganho imensurável de conhecimento e valor.

A execução deste projeto na turma recursal, avança com compromisso de nova turma de voluntários, desta vez, entre os magistrados que compõem as seis turmas recursais com o objetivo de promover esse processo de autoconhecimento, em sessões individuais e coletivas, para reverter em felicidade, plenitude e alcance de resultados e cumprimento de metas.

Para concluir, vale registrar que o uso de ferramentas do Coaching e da Programação Neurolinguistica na gestão de pessoas dentro do Poder Judiciário da Bahia tem por objetivo, ao menos inicialmente fortalecer três dos sete[ii] princípios apontados no livro “O jeito Harvard de ser feliz”[iii], quais sejam eles: 1. “O benefício da felicidade que ensina como retreinar o cérebro para capitalizar a atitude positiva e melhorar nossa produtividade e desempenho”; 2. “O ponto de apoio e a alavanca, segundo o qual é possível ajustar nossa atitude mental (nosso ponto de apoio) de maneira a nos dar o poder (a alavanca) para atingirmos a realização e o sucesso” e 3. “O círculo de zorro, de acordo com esse princípio é possível que dominemos nossas emoções e retomemos o nosso controle, concentrando-nos primeiro em metas pequenas e factíveis e só depois expandindo gradativamente o nosso círculo para atingir metas cada vez maiores”.



[1] Nesta trajetória esta magistrada fez MBA em Gestão de Pessoas e Formação de Lideranças, Tenha Formação Practtioner em PNL e PCC em Coaching, sendo que todas as ferramentas de cunho privado foram convertidas à realidade do Judiciário e no desenvolvimento de competências específicas, cognitivas e comportamentais.

[2] Coaching – processo, a metodologia utilizada, Coach é o profissional e Coachee é o sujeito que recebe o apoio.

[i] . O Coaching também está sendo utilizado no Poder Judiciário do TRF da 4ª Região, com a Drª Ana Cristina Monteiro de Andrade Silva, Juíza Federal da 1ª Vara Federal de Joaçaba-SC, que escreveu o artigo “Coaching no Poder Judiciário – um olhar interno – experiência do TRF d 4ª Região, Brasil”

[ii] Os sete princípios do sucesso são: o benefício da felicidade, o ponto de apoio e a alavanca, o efeito tetris, encontre oportunidades na adversidade, o círculo do zorro, a regra dos 20 segundos e o investimento socal

[iii] Achor, Shawn. O jeito Harvard de ser feliz: o curso mais concorrido de uma das melhores universidades do mundo; tradução Cristina Yamagami; São Paulo: Saraiva, 2012, 1ª edição, 8ª tiragem:2015




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