Devo de imediato admitir: não esperava ser surpreendido por meu filho de 3 anos e meio “me ensinando uma lição”. Mas que experiência enriquecedora! Coloquei entre aspas pois é óbvio que esse não era seu objetivo, mas fiquei impressionado em como o comportamento de uma criança pode surpreender a programação mental de um adulto.

Um dia desses estávamos em casa, adultos ocupados com coisas de adultos e meu garotão pediu pra jogar video game. Eu já esperava que alguns minutos depois ele me chamaria pra jogar com ele então fiquei por perto, mas ainda com a mente ocupada com minhas coisas. Quando ele enfim chamou, liguei o segundo joystick e começamos uma animada aventura de super heróis, dividindo tarefas e removendo os obstáculos do caminho em direção ao objetivo da fase.

Sim, um adulto sempre (pensa que) sabe onde quer chegar: vencer todas as “fases” e finalizar o jogo com maestria, e era desse jeito que eu conduzia nossa parceria na tela: orientando, aconselhando, apontando o que deveria fazer, como e quando deveria fazer para, enfim, alcançarmos o objetivo. Pai e filho explorando um joguinho eletrônico… simples e trivial, não?

Acontece que em determinado momento precisei deixar o controle de lado e, observando que ele já sabia resolver aquela fase sozinho, fiquei cheio de orgulho por ver meu filhote – que pouco tempo atrás não fazia quase nada sem ajuda – agora todo independente em seus passatempos. Enfim, minutos de tietagem paterna depois, desliguei temporariamente minha atenção da brincadeira para fazer alguma outra coisa e, quando voltei-me pra meu filho novamente, ele não estava indo mais em direção ao objetivo da fase. Tive a apressada impressão de que ele vagueava perdido pelo cenário, saltando, girando, destruindo e construindo coisas aleatoriamente. De súbito fui tentado a chamar sua atenção e dizer que caminho ele deveria seguir pra retomar o curso em direção ao objetivo da fase, mas algo me fez ficar quieto e percebi que ele não compartilhava de minha ansiedade por esse resultado… antes, estava sorrindo e curtindo, literalmente brincando, enquanto explorava e descobria os movimentos dos personagens, cada salto, manobra, golpe, e todas as possibilidades de interação com cada detalhe do ambiente. Minha respiração aquietou, e me encantei ao ver um tão jovem explorador demonstrando o prazer em aprender pequenas coisas, em descobrir e desenvolver novas habilidades. Lembrei-me que repito a seguinte frase quando ele vai à escola: “divirta-se e aprenda coisas novas hoje”. Sei que aquele sorriso que recebo como resposta, todas as vezes, é uma confirmação que ele está no caminho certo. E presenciar a mesma atitude em quase tudo o que ele faz, inclusive no video game, é um lembrete poderoso de que aprender é um processo contínuo e infinito, que sempre nos deixa maiores e melhores a cada experiência.

Mas e o coaching? Onde entra?

É que nós, adultos “entendidos das coisas”, temos essa mania de achar que tudo se resume ao objetivo, à meta, e esquecemos do desenvolvimento de habilidades necessárias para o alcance desses mesmos objetivos e metas. Queremos “chegar lá”, nessa tal condição ainda não alcançada, mas sendo as mesmas pessoas; e o que tento demonstrar com o exemplo acima é que para passar de fase meu filho precisou aprender coisas novas, e a partir daí já não era a mesma pessoa. Tornou-se alguém com mais conhecimentos, habilidades e capacidades. E o despertar dessa disposição para o crescimento, adormecida pelos condicionamentos adquiridos ao longo da vida é um dos principais ganhos que o coaching pode proporcionar. Afinal, a melhor maneira de enfrentarmos grandes problemas não é tentar diminuí-los, mas nos tornarmos maiores que eles. No processo de coaching temos, entre outros benefícios, a possibilidade de observar a situação com a mente aberta, explorando pontos de vista complementares e buscando interna e externamente os recursos e habilidades necessárias para a obtenção do resultado desejado.

A segunda coisa que quero demonstrar com o exemplo é que “o jeito que eu conduzia”, sublinhado no segundo parágrafo, pode ser comparado a uma consultoria, e não deve ser confundido com coaching. Um consultor usa suas experiências e habilidades para construir uma solução para determinado problema de seu cliente – e quando é exatamente isso que se pretende ao contratar um consultor, todos ficam felizes. Por sua vez, um coach irá utilizar técnicas e ferramentas para auxiliar o cliente a encontrar seu próprio caminho, despertando seu processo de aprendizagem, clarificando a análise e reflexão sobre a meta pretendida, visando o desenvolvimento do indivíduo e a ampliação de suas competências para que este possa chegar ao estado desejado.

Miguel, meu pequeno herói, está aprendendo e se desenvolvendo todos os dias. A gente sabia fazer isso… lembra?

Enquanto você pensa e se abre para as possibilidades do coaching, vou me acostumando com a ideia de não dizer mais ao meu pequeno herói o que deve fazer nessas e em outras fases, pois há meios mais proveitosos – pensando no curto e no longo prazos – de passar esse tempo ao lado dele.

Grande abraço, até a próxima!



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