Há tempos atrás, conversando com um amigo que costumava estar sempre disponível para os outros, mas constantemente esquecia-se de si mesmo, me veio a lembrança do que certamente muitos de nós já escutamos, e por diversas vezes, quando o avião está prestes a decolar. Escolhi como título deste artigo.

Confesso que das primeiras vezes que ouvi tal orientação, me senti intrigada; afinal, não seria muito egoísmo deixar de ajudar primeiro a quem mais necessita? E o que falar quando quem está ao lado é meu filho?

Depois de algum tempo, a compreensão me ficou bastante clara. Se eu não estiver respirando bem, não terei condições de auxiliar mais ninguém. Pelo contrário, se eu não estiver respirando, muito provavelmente terei que ser socorrida, ao invés de estar ajudando.

Mas, afinal, onde quero chegar com tudo isso? Não, não deixei de me interessar pelo comportamento humano para estudar procedimentos de voo. Mas vejo uma grande analogia sobre a qual gostaria de provocar uma reflexão.

Quantas vezes nós achamos que podemos identificar as necessidades daqueles que estão à nossa volta e prontamente nos propomos a ajuda-los, seja com conselhos, orientações ou atitudes? No trabalho, junto à nossa equipe, exercemos e “mostramos” como fazer gestão. Como pais, entendemos que nos cabe a necessidade de educar nossos filhos e “ensiná-los” sobre a vida, como se pudéssemos protegê-los de todos os perigos que “estamos certos” existirem. Não é assim? Sem falar no fato de nos sentirmos responsáveis pela felicidade dos que nos cercam e, para sabermos que estão felizes, chegamos a abrir mão da nossa própria felicidade, sem contar as vezes em que nem lembramos de sua importância.

O procedimento referente às máscaras de oxigênio talvez consiga provocar em nós alguns questionamentos. Já parei para pensar em autogestão, antes de me predispor a gerenciar pessoas? Posso eu me propor a disciplinar meus filhos se não tenho disciplina? Trabalho a minha própria felicidade e, então, irradiando isso, penso incutir nos meus filhos seus próprios conceitos de felicidade e os apoio?

Não trago aqui qualquer tom de crítica. Muito pelo contrário, estou partindo de suposições baseadas na mais pura vontade e disponibilidade em ajudar. Mas pretensiosamente ressalto, que por melhor que sejam essas intenções, para reconhecer as necessidades do outro, é preciso que eu reconheça as minhas; para estender a mão a alguém, é preciso que a minha seja firme; para amar alguém, é preciso que eu me ame...

Uma dose de egoísmo, se assim optarmos por determinar, no fundo, pode ser essencial para que eu consiga fazer algo por alguém que, em primeira instância, seria eu mesma.



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