Já sabemos que o nosso inconsciente individual influencia nossas decisões. Existe, porém, uma parte do nosso inconsciente que é comum a todas as pessoas, por isso Carl Gustav Jung o chamou de inconsciente coletivo. Nele se encontra tudo que funciona de forma autônoma e inerente ao processo de desenvolvimento humano. Ele também tem grande influência sobre nossa forma de pensar e agir, pois contém as noções primordiais que imprimimos sobre todas as coisas.

A essas imagens e símbolos primordiais coletivos Jung chamou de arquétipos. Eles são a forma como primeiro entendemos alguma coisa que está presente em todas as culturas e em todas as gerações. Um exemplo de arquétipo é a visão do homem sobre Deus: uma força superior que comanda a natureza, com vontade própria e poder além da compreensão humana.

Embora o arquétipo seja semelhante em diferentes culturas, ele é percebido de forma diferente entre as gerações e de acordo com a evolução da nossa espécie. Exemplificando, para um neandertal, Deus seria um ser celeste que cria fogo e trovão, por isso era temido. Para o homem da Grécia antiga, haveria inúmeros deuses poderosos, mas com desejos e potenciais humanizados, por isso eram comparados aos homens. Para o homem moderno, Deus é único e bom, ou não existe, por isso confiamos nele, ou apenas em nós mesmos.

Perceba que essas imagens primordiais, que estão em nosso inconsciente, podem influenciar nossas decisões de diversas maneiras. Por exemplo, o arquétipo de Deus atua nos relacionamentos, por acreditarmos que Ele observa. Também define a forma como nos relacionamos com Deus, seja com humildade, medo ou indiferença. E ainda atua sobre como lidamos com poder e controle, que Ele possui e o homem deseja ter.

São exemplos de outras imagens primordiais bastante marcantes em nossas vidas os arquétipos da morte, do herói, do fora da lei, da grande mãe, do velho sábio, entre tantos outros, que literalmente são vivenciados em nossas próprias histórias. As experiências com eles podem ser bastante semelhantes, mesmo em diferentes países e culturas, porque agimos de acordo com essas noções primordiais do inconsciente coletivo.

Sendo assim, como esses arquétipos atuam fortemente sobre nossas decisões, é interessante compreender como eles podem influenciar na sua meta, transformando esse conhecimento em vantagens na sua maneira de pensar e de agir.

Pela metodologia do Coaching você é provocado a responder muitas perguntas a respeito de sua meta, visão, missão e ambição. Uma consequência natural disso é uma ampliação da sua consciência, estimulando uma mudança de postura, que passa a ser cada vez mais pró-ativa. Você aprende a observar seus pensamentos e refletir sobre suas ações e comportamentos. Durante esse processo, você pode perceber quais arquétipos são vivenciados através de sua meta e aprofundar o seu conhecimento sobre eles. Trazer os arquétipos para a sua consciência é o meio pelo qual você descobre como eles atuam sobre você, podendo então avaliar se precisa rever seus conceitos e atitudes.

Para que você possa entender melhor como fazer isso, o primeiro passo é compreender seis aspectos fundamentais da nossa personalidade. Segundo Jung, esses aspectos são os arquétipos da personalidade, que se combinam para formar o nosso caráter e definir nossas atitudes:

1. A Persona: é a parte da personalidade que você escolhe para se apresentar ao mundo. É uma máscara consciente, que representa como você deseja ser visto ou como você gostaria de ser, mas que oculta parte de sua personalidade. Inclusive, podem existir diversas máscaras, uma para cada contexto social. É um arquétipo de conformidade, ou seja, a sua noção primordial sobre uma postura ideal e adequada em cada contexto social.

2. A Sombra: é a parte da personalidade que você esconde porque não aceita, ou porque não reconhece em si mesmo, e não acha conveniente que seja exposta. Temendo ser julgado, você acaba por reprimi-la no seu inconsciente, cultivando a culpa, ao invés de compreende-la. É um arquétipo de inconformidade, ou seja, sua noção primordial sobre uma postura recriminável e inadequada.

3. A Anima (feminino) e o Animus (masculino): é a parte da personalidade relacionada a sexualidade. Ambos os sexos coexistem e se equilibram dentro da personalidade, razão pela qual você pode agir da forma esperada pelo seu sexo, ou da forma esperada pelo sexo oposto. É o arquétipo de oposição entre os sexos, ou seja, da noção primordial que temos sobre os papéis e atitudes esperadas do homem e da mulher na sociedade.

4. O Ego: é sua noção de individualidade, como você se percebe, de acordo com suas experiências através de sua cultura, da educação que recebeu e de seu corpo físico. É o que você aprendeu até agora. Por essa razão, o Ego pode ser confundido com a sua própria personalidade, já que ele representa o que você conhece sobre si mesmo. É o arquétipo da sua consciência e individualidade.

5. O Self: é a sua personalidade integral, portanto englobando a sua consciência (Ego) e o seu inconsciente individual e coletivo. Ele transcende o seu Ego porque contém potenciais que você ainda desconhece sobre si. Quando revelados, esses potenciais passam a integrar a sua consciência. Assim, se você atingisse um estado de consciência plena, o Ego seria igual ao Self. É o arquétipo da “divindade dentro de você”, da plenitude.

Em qualquer situação são esses aspectos da personalidade que vão determinar conjuntamente a sua maneira de pensar e de agir. Quanto maior o seu estado de consciência, melhores serão suas decisões e quanto mais você se descobre e se aceita, mais competências vai adquirindo. Para isso é preciso voltar o olhar para dentro de si e analisar atentamente os seus pensamentos para conhecer todos os aspectos de sua personalidade.

Através da metodologia do Coaching você é estimulado a conhecer sua personalidade, já que deve escolher quais comportamentos precisa ter para atingir seus objetivos. O processo coloca em evidência a diferença entre agir racionalmente por sua escolha e agir porque você considera que esse é o seu jeito de ser, sem ter buscado autoconhecimento.

Diante da falta de consciência sobre um aspecto nosso, é comum a projeção dos arquétipos em outras pessoas, quando nelas notamos as características que não reconhecemos em nós próprios. Por exemplo, quando não vemos nossa força, nossa beleza, nossa bondade, elas se tornam nossos ícones. Da mesma forma, quando essas características são consideradas ruins, as julgamos e sentenciamos mentalmente, sem notar que agimos da mesma forma, mesmo que inconscientemente.

Para ampliar a consciência e descobrir em si os potenciais que ainda não conhecia você deve iluminar sua Sombra, ou seja, conhecê-la e aceitá-la, pois ela geralmente é apenas incompreendida. Por exemplo, se diante da sua raiva, inveja e baixa autoestima, você se culpa por ser nervoso, fraco e feio, inconscientemente já terá aceitado esses rótulos e não entenderá porquê não consegue rever suas atitudes.

Por outro lado, se aceitasse sua raiva, perceberia que ela não precisa vir carregada de ódio. Canalizada para o bem, ela lhe dá força para enfrentar os desafios e para buscar mudanças.
Se aceitasse sua inveja, veria que ela não implica em desejar mal para o outro. Canalizada para o bem, ela também lhe dá força, pois você percebe algo que deseja para si e pode então pensar no que precisa fazer para conquistar, sem desejar mal a ninguém. Ela lhe dá ambição, que nada mais é que a vontade de se desenvolver, de buscar maior satisfação, conhecimento e conforto.

Diante da baixa autoestima, ao invés de se recolher, você pode compreender o que pode fazer para sentir-se melhor: estudar, emagrecer, se exercitar, se arrumar para você mesmo. Diante do cansaço, pode deixar de ter autopiedade e buscar tudo que possa revigorar seu corpo e sua mente, como exercícios, terapias ocupacionais e leituras edificantes.
Através do Coaching você é desafiado a buscar uma visão holística sobre sua personalidade, a colocar-se no lugar do outro, a agir (ao invés de reagir) em prol da meta que escolheu priorizar. Para auxiliar a identificar os arquétipos e como eles atuam sobre você, algumas situações são exemplificadas a seguir:

O pai que deseja ter mais tempo com a família: vive o arquétipo do Anima, seu lado feminino, que busca proteger e cuidar de sua família, participando da educação e desenvolvimento dos filhos, ao lado da esposa. Ele percebe que para sentir-se mais completo deve fazer mais do que apenas trazer o dinheiro. Para isso, precisa repensar suas atitudes e buscar formas de conciliar sua vida pessoal e profissional.

A mãe que deseja ser executiva: arquétipo do Animus, seu lado masculino, que deseja trabalhar, mandar, “caçar”. Ela percebe que para ser completa não pode apenas ficar em casa. Decide se capacitar profissionalmente para voltar a trabalhar e passa a ter atitudes menos submissas, nas quais abdicava de sua própria satisfação pelos outros.

A executiva que quer casar e ter filhos: arquétipo do Anima, tendo dado ênfase a seu lado masculino diante de todo o movimento feminista, percebe que ocupar o lugar do homem não é suficiente. Precisa agora acolher seu lado feminino para se completar, sendo menos autoritária e se relacionar com os homens de forma não competitiva.

O adolescente revoltado: arquétipo do Ego, sente a necessidade de confirmar sua individualidade e para isso toma decisões que seriam contrárias a dos pais, muitas vezes destrutivas. Já adulto, percebe que, apesar de ter comprovado sua individualidade, não conquistou sua liberdade, pois as decisões, apesar de suas, não lhe favoreceram. Precisa agora buscar sua liberdade através de comportamento não destrutivos.

A síndrome do ninho vazio: arquétipo da grande mãe, do Animus e Anima. A mulher que dedicou sua vida ao marido ou aos filhos entra em depressão quando eles saem de casa, pois não percebe outro sentido para sua vida. Tendo vivenciado somente esse arquétipo, precisa entrar em contato com os demais arquétipos que foram reprimidos ou negligenciados, como o Animus, que contém força para lutar e o Anima, para valorizar sua sensualidade e beleza, antes abdicadas.

O advogado que deseja ser juiz: arquétipo de Deus. Deseja o poder de julgar e sentenciar os outros. Ao ser capaz de determinar quem está certo e quem está errado, tem a prerrogativa de estar sempre certo. Contudo, deve exercer seu poder sendo isento e sem preconceitos diante dos fatos e evidências, mas também colocando-se no lugar do réu.

Esses exemplos ilustram algumas situações que mostram os arquétipos atuando sobre nossos comportamentos. Uma revisão de atitudes é sempre necessária para quem deseja ser o protagonista de uma nova história. Você não precisa buscar respostas em traumas do passado, nem deve apontar culpados. Basta refletir a respeito dos arquétipos de sua personalidade e como você permite que eles e outros arquétipos atuem sobre sua vida atual. Responda então se essa é a forma com a qual você deseja que continuem te influenciando, se te ajudam a alcançar sua meta. O que você quer a partir de agora?

Responda as seguintes perguntas:

Como é sua Persona hoje? Ela te ajuda a atingir seus objetivos?
Que arquétipos você está experimentando através de sua meta e de que maneira conhecê-los pode te ajudar?
Como os arquétipos influenciam suas atitudes? Você precisa rever seus comportamentos e conceitos?
Qual seria a forma mais adequada de viver esses arquétipos?


Informamos que esse texto é de inteira responsabilidade do autor identificado abaixo.